quinta-feira, 31 de março de 2016

CARTAS PARA Q.

Uíge, Rio Tejo, 31 de Março de 1973

Q.,

O 'Uíge' veio em marcha lenta, poucos nós à hora, desde a foz do rio Geba, por entre vagas da altura da torre de menagem do castelo de Beja. Bom, talvez seja exagero de alentejano, talvez as ondas fossem só da altura das ameias do castelo de Beja ou ligeiramente mais altas. Concedo. Mas eram altas e metiam medo. E, pior, obrigaram a mais dois dias de viagem, a mais dois dias de suplício, a mais dois dias sem nos vermos livres desta farda verdosa, viscosa, merdosa. 
E, chegados ao Tejo de águas mansas, o 'Uíge' continua lento a subir o rio, agora por precaução. Há por aí baixios , trânsitos diversos - fragatas, canoas, petroleiros, batelões, rebocadores, 'cacilheiros' da Trafaria, paquetes cheios de camones. 
Já se vê gente no cais de Alcântara - familiares, amigos, amigas, namoradas, madrinhas de guerra para recepção calorosa e emocionada; polícias militares para manter a ordem e impor respeitinho aos taratas; polícias de segurança pública para manter a ordem e impor respeitinho aos paisanos, regular o trânsito; e os outros, os da 'Defesa do Estado', que aparecem em todos os ajuntamentos com mais de duas pessoas - e nunca mais chega a hora da atracagem. A bordo, nos conveses, as gargantas do pessoal têm tráfego nos dois sentidos: de fora para dentro passa o álcool, de dentro para fora passa a letra da canção da Amália gritada sem afinação nem descanso: "Um cravo numa água furtada / Cheira bem, cheira a Lisboa / Uma rosa a florir na tapada / Cheira bem, cheira a Lisboa ". Sãos e salvos, celebram o regresso. Digo sãos e salvos? Talvez outro exagero. Salvos, sim, mas sãos nem todos, vê-se à vista desarmada: magros, envelhecidos, amarelos, entranhas como sucatas, heranças de dietas porcinas, águas podres, vendas de sangue assíduas e sem controlo, a quinhentos pesos (uns cobres extra para sandes, cervejas, putas), paludismos, hepatites, venéreos. Mais os apanhados pelo clima, malucos encartados para todos os gostos e alguns com difícil conserto.
Chegam as ordens para a operação de desembarque: não há desfile (o que é lamentável, perde-se um hilariante espectáculo: os 'heróis do Ultramar' a marcharem de passo trocado, às curvas e aos tropeções, boa imagem de um país e de um regime em estado de tem-te-não-caias). Só uns beijos decentes e uns abraços breves. Depois, toca para as 'Berliets' e é rumar ao '1 de Infantaria', na Amadora, para espólio final e só depois a desenfreada corrida para os braços da 'Peluda', sendo que a 'Peluda', em terminologia de magalagem, não é uma namorada ou uma madrinha de guerra alérgica a depilações ou orgulhosa da sua farta pentelheira, mas tão-só e simplesmente a vida civil, a vidinha civil.
Mas o 'Uíge' traz mais passageiros, no último porão, quase clandestinos: os mortos.  A alguns deles, em nome da Pátria reconhecida e nas minhas funções de 'oficial cangalheiro', prestei honras militares, em Bissau. Viajaram no último porão e aí ficarão até de madrugada. 'Honrai a Pátria e a Pátria vos contempla', disseram-lhes num dia já longínquo. Honraram a Pátria e a Pátria os contemplou com chumbo e pinho e, num caso ou noutro, com uma cruz de guerra com palma, por feitos em combate, a título póstumo, entregue num 10 de junho, dia da Raça lhe chamam, no Terreiro do Paço, a pai ou parente chegado, choroso e de fato preto. Desembarcarão sem pompa nem circunstância, a coberto do escuro da noite, e seguirão para cidades, vilas e aldeias remotas, espalhadas um pouco por todo o país. E quem sabe se aí, durante os funerais, aparecerá alguém a cantar baixinho, muito baixinho, como quem reza: "Tejo que levas as águas / Correndo de par em par / Lava a cidade de mágoas / Leva as mágoas para o mar. // Lava-a de crimes, espantos / De roubos, fomes, terror / Lava a cidade de quantos / Do ódio fingem amor"...

FIM.

Até já, Querida.
P.

DIVULGAÇÃO



É, sem qualquer dúvida, a melhor livraria de Lisboa. E por uma razão muito simples: além de livros, tem livreiros, essa espécie em vias de extinção.
Fica o azimute para quem quiser confirmar - Avenida Duque d'Ávila 58 A - Lisboa

quarta-feira, 30 de março de 2016

CORRUPÇÃO? NÃO, OBRIGADO!



Em Portugal, as esquerdas lidam mal com as situações de corrupção em que estão envolvidos figurões que vieram da 'esquerda'. Esquecem os valores e os princípios que defendem porque acham ou fingem achar que uma condenação liminar pode favorecer as direitas. Quando não podem fugir à emissão de um juízo, hesitam, simulam, tartamelam, inventam argumentos infantis ou, simplesmente, ridículos.
É assim com Sócrates, é assim com José Eduardo dos Santos, é assim com a dupla Lula/Dilma.
Até parece que querem convencer alguém da 'superioridade moral' da corrupção de 'esquerda' sobre a corrupção de 'direita'. Uma tristeza.
Não percebem, ou fingem não perceber, que a corrupção, independentemente do quadrante político que a gera e protege, é um mal absoluto que mina, como um cancro letal, qualquer regime democrático.
Senhores e senhoras das esquerdas, rapazes e raparigas das esquerdas, vamos lá dizer, gritar, claramente e de uma vez por todas: "Corrupção? Não, obrigado!". É tão simples...



terça-feira, 29 de março de 2016

PERGUNTAR NÃO OFENDE



A sigla para um movimento popular de ladrões e assassinos só poderá ser MPLA. Certo?

PROJECTO PARA NOVA BANDEIRA DO MPLA


segunda-feira, 28 de março de 2016

QUE BELO BROCHE

Foi feito por um joalheiro italiano. É de ouro e está decorado com esmeraldas, safiras, rubis e pérolas. Voltou, finalmente, à posse do Estado português.
O 'Diário de Notícias', jornal sério e com leitores de todas as idades, traz a boa nova e chama-lhe alfinete de peito. Faz bem. A uma peça de joalharia feita para uma rainha cognominada 'Pia', Maria Pia, não convém chamar broche. É que a palavra emprega-se em situações muito diversas e há por aí muito carbonário de mente perversa.
E, já agora, era o que faltava, depois do grito salazarista "Temos o Santa Maria connosco", vir o João Soares anunciar ao povo "Temos o broche da D. Maria connosco" e o 'Diário de Notícias' da frase fazer manchete...

PILDRA COM ELES!


Então, em defesa do interesse nacional angolano, andam os cleptocratas do mpla a tratar de uns 'desvios' que lhes possibilitarão mais compras de bancos, gasolineiras, tecnológicas, andares no edifício 'Katinga', clubes de futebol e outras coisinhas igualmente simples e um bando de malfeitores a incomodar, a chatear, a denunciar?
Pildra! Pildra com eles! E por muitos anos!

SUGESTÃO


domingo, 27 de março de 2016

sábado, 26 de março de 2016

SÍMBOLO

Marcelo leva pastor-alemão para Belém 
Animal foi oferecido pela Força Aérea Portuguesa. (CM)

Temos, então, o presidente da República vigiado e guardado por um pastor-alemão. Podia ser um rafeiro do Alentejo, um serra da Estrela, um Castro Laboreiro, um cão de água como o do Obama, tudo bicheza nacional. Nada disso. O pastor alemão é que é 'fashion'. E, nos dias que passam, é um símbolo, é todo um tratado de política externa.
Os padrinhos, em momento de fraca inspiração, chamaram-lhe 'Asa'. Protesto! O animal devia chamar-se 'Schauble'. 

PERGUNTAR NÃO OFENDE

Karadzic condenado a 40 anos de prisão por genocídio e crimes de guerra


O homenzinho foi considerado culpado de dez crimes 'menores': genocídio, perseguições, extermínio, assassinatos, deportações, deslocações forçadas, disseminação de terror, ataques deliberados contra civis e tomada de reféns.
Apetece-me perguntar e pergunto: quando terá início, no Tribunal Penal Internacional,  o julgamento dos responsáveis pelos crimes de  genocídio, perseguições, extermínio, assassinatos, deportações, deslocações forçadas, disseminação de terror, ataques deliberados contra civis e tomada de reféns, praticados no Iraque, depois da deposição de Saddam Hussein?

sexta-feira, 25 de março de 2016

LEITURA IRRITÁVEL, MAS OBRIGATÓRIA



Eles andam por aí. Só na rua, abandonados, andam mil e setecentos (uma aldeia inteira). Nos hospícios, nas associações de apoio, no seio de famílias martirizadas andam os restantes. E os restantes são muitos: cento e dez mil, dizem as estatísticas (uma cidade com a dimensão de Coimbra). São os stressados de guerra, os doentes crónicos que a guerra colonial gerou e pariu, durante treze anos.
Por comodismo e má consciência, o país finge ignorar a sua existência.
João Paulo Guerra, no romance "Corações Irritáveis", ficcionando sobre casos extremos, numa prosa fluída e em português de lei, levanta o véu e mostra a incómoda realidade. Choca-nos, e ainda bem. Mas é exactamente por isso que a leitura do livro se torna obrigatória.

UM IMENSO ADEUS


Morreu Johan Cruyff, um dos maiores do futebol

quinta-feira, 24 de março de 2016

CARTAS PARA Q.

Empada, 4 de Fevereiro de 1972

Q.,

"J'avais vingt ans et je ne laisserai personne dire que c'est le plus bel âge de la vie." Andava triste o Paul Nizan. Tinha vinte anos e andava triste. Teve a elegância de morrer cedo, como diria, poucos anos depois, o seu grande amigo Jean-Paul Sartre. Foi durante a guerra, uma bala perdida, uma daquelas balas perdidas que sempre aparecem em todas as guerras e que encontram abrigo num corpo que passa.
Tenho vinte e três anos, estou na guerra e triste. E também não permitirei que ninguém diga que estes são os mais belos anos da minha vida. Talvez por isso me tenha lembrado do Paul Nizan. Por isso, e porque aqui a coisa está perigosa. Circulam balas perdidas (e achadas), estilhaços de granadas de RPG, morteiros, canhões, mísseis terra-terra. Ninguém está livre de um encontro fatal com um desses bocados de aço esvoaçantes e de uma morte sem elegância.
Ontem, o PAIGC queria festejar mais um aniversário do início da guerra colonial com um programa de grande 'ronco' (ronco, no dizer destes gentios da Guiné, é alarido). Para bombo foi escolhido o 'campo fortificado de Empada', designação que empregam para identificar o quartel, a aldeia adjacente cercada de arame farpado e os nossos postos avançados, lusa cópia das aldeias estratégicas do Vietnam.
Houve festival, mas o programa teve alterações de última hora. Um bi-grupo de infantaria IN, abreviatura de inimigo para facilitar a redacção de relatórios, que tinha por missão o assalto ao quartel caiu numa emboscada das NT (nossas tropas, em linguagem de amanuense) que, em acção defensiva, se tinham instalado a menos de mil metros do quartel, bem abrigadas e armadas até aos dentes. Por volta das sete, já noite caída, estava eu no quartel com dois pelotões em prontidão para o que desse e viesse, começou o fogachal: G3, morteiros, bazucas, dilagramas, de um lado; Rpg(s), granadas, Kalashnikoves, do outro. Vinte minutos de inferno e, depois, silêncio e retiradas. 
Os nossos chegaram todos, dois deles feridos. Ferimentos ligeiros, ao que parece, uns estilhaços de granada nas pernas. Foram hoje evacuados para Bissau. Os médicos do hospital militar dirão o que se passa.
Mas o momento alto da festa ainda estava para vir e com largo e demorado foguetório: lá pelas dez, uma tempestade de aço sobre o quartel - canhoadas com fartura (centenas!) enviadas de várias bases e com pontaria de peritos, mísseis q.b. - quatro - que a vida está cara e o material, por pesado, é de difícil transporte. Quatro tremores de terra (escala 5 de Richter, talvez) foi o efeito, acompanhados de quatro rajadas de vento ciclónico.
Mais quarenta minutos de inferno, ou talvez pior, porque, pelo que tenho ouvido, o inferno será tão quente como a Guiné, mas com menos humidade, menos melgas, menos ruído e menos aço voador. Enfim, passou. Abrigados nas valas ou protegidos nos espaldões dos morteiros e do óbus que também mostravam serviço, safámo-nos todos com vida e com poucos arranhões. Obra da Nossa Senhora de Fátima, pela certa. Menos sorte teve um velho biafada que fui socorrer na tabanca: morto, morto, morto. Uma granada de canhão deixou-lhe o corpo tão furado como um barril de cerveja, em noite de cavalos aos tiros e pistolas aos coices, num bar do Far-West.
E esta manhã, pelo nascer do sol, lá fui comandar a tropa para o reconhecimento do local da emboscada. Surpresa, grande surpresa: um guerrilheiro morto com um tiro na testa, boca e olhos abertos como se revelassem espanto pela nossa chegada, dois feridos com as pernas cheias de estilhaços dos dilagramas. Um deles, ainda de pistola em punho, rendeu-se quando viu noventa G3 apontadas. Ainda bem. Evitou-se um fuzilamento sumário. Improvisámos macas com troncos de árvores para o seu transporte e lá regressámos ao quartel. O morto foi depois enterrado junto da pista de aviação e os feridos seguiram para o Hospital de Bissau, fazendo companhia aos 'nossos' feridos.
À hora de almoço, o cabo cripto trouxe à messe de oficiais uma mensagem de Bissau: o Quintino Gomes, comissário político do PAIGC e homem muito influente em toda a zona libertada do sul da Guiné, morreu na emboscada. 

Q.,

Agora em francês, para dar a tudo isto um ar menos incivilizado: J'ai vingt-trois ans et je ne laisserai personne dire que c'est le plus bel âge de la vie.
Dá para perceber?

Beijos,
P.

NOTÍCIAS DA (MINHA) PÁTRIA


Alentejo quer ser já região administrativa, ainda que transitória


Mais de 80 instituições alentejanas promovem congresso sobre poder local e regional no próximo dia 2 de Abril em Tróia. O texto da declaração final defende a criação da Comunidade Regional do Alentejo enquanto a regionalização, prevista há 40 anos na Constituição, não avança
Público

quarta-feira, 23 de março de 2016

DO INFERNO E DAS SARDINHAS

O padre Brandão até parecia bom homem. Dava missa na Sé, baptizava, casamentava e ainda fazia uns ganchos nas escolas primárias, arregimentando cordeirinhos para o divino rebanho. Falava bem, ou assim me parecia, e mansamente. Do Céu e dos anjinhos falou com tanta ternura que eu, em olhar panorâmico pela sala de aula, já só imaginava aquela malta, no recreio, a correr, a saltar, a futebolar e todos de asinhas nas costas. Mas depois veio o reverso da medalha, como é uso dizer-se. Veio o Inferno com seus pecadores e seus caldeirões de azeite a ferver. Um horror. Olhei para o Sardinha (o Sardinha, mais velho, mas presente na sala por ser repetente contumaz, era o meu ídolo por ser o melhor no jogo da bola. Aliás, anos depois, graças ao seu fabuloso pé esquerdo, chegaria a back da selecção nacional de futebol com um nome artístico terminado em 'inho', fruto da sua admiração por um médio brasileiro que jogava no Sporting, nosso íntimo dos cromos da bola e que o Artur Agostinho, na rádio, elogiava muito. Mas por aquele tempo, o Sardinha alinhava no grupo dos 'atrasados' e sentava-se na última fila de carteiras). Olhei para o Sardinha e imaginei-o mergulhado num caldeirão de azeite a ferver. Sim, porque com tão fraco aproveitamento escolar, o Sardinha só poderia ir parar ao Inferno. Poderia ir? De acordo com as condições necessárias para lá se entrar, muito bem explicadinhas pelo padre Brandão, ia de certeza absoluta! Fiquei comovido e angustiado. Só via o azeite a ferver e o Sardinha (o meu ídolo!) lá dentro a gritar.
Cheguei a casa tão angustiado e tão comovido ainda que, antes do beijo da praxe, disse logo à minha mãe, num tom pungente e, simultaneamente, imperativo: "Mãe, nunca mais quero comer sardinhas fritas!"

O OUTONO DOS ARTISTAS

Escutas a Sarkozy validadas, ex-Presidente vai ser julgado por corrupção

Público

Supremo mantém investigação a Lula nas mãos do juiz Sérgio Moro

PÚBLICO

terça-feira, 22 de março de 2016

TERRORISMOS

Foram os atentados de Paris com mortos e feridos. Agora, Bruxelas. Mais mortos e mais feridos.
Televisões, rádios, jornais noticiam, voltam a noticiar com mais detalhes, mostram imagens de feridos e vidros partidos, ambulâncias, carros de polícia, divulgam testemunhos e opiniões de populares, políticos em exercício, políticos retirados, especialistas em segurança, peritos em terrorismo, comentadores encartados em terrorismo e outras matérias esquisitas. Mas, curiosamente, não se conhecem as opiniões de Blair, Aznar, Durão Barroso. Esquisito, muito esquisito. Ou talvez não. De facto, todos sabemos que acontecimentos recentes deram origem ao aparecimento do 'Estado Islâmico' e todos conhecemos, igualmente, os seus grandes feitos. Paris e Bruxelas são só detalhes.
Blair, Aznar, Barroso, mantenham o silêncio. É melhor assim.

CARTAS PARA Q.

Bissau, 27 de Setembro de 1971

Q., 

Depois de saber a notícia e de desligar o telefone, vim para aqui, para a esplanada do 'Bento'. Cheia, como sempre, de tropa, de cervejas. Barulhenta: gritos, arrotos, peidos, cascas de ostras, aqui tão baratas como os tremoços ou a mancarra, a tilintar nos baldes, uma ou outra garrafa a partir, vernáculo, sons a imitar explosões puum!, puum!, outros sons vadios de raça indefinida, o diabo.
Não conheço ninguém, não posso partilhar a alegria da boa nova. Gozo-a sozinho e assobio uma moda da minha terra, a "Que Inveja Tens Tu das Rosas". E bebo gins. Já lá vão seis. Começo a sentir-me leve e solto. Os da mesa do lado olham para mim um pouco intrigados pelo assobio e pelos copos e garrafas de 'tónica' que se vão acumulando na minha mesa. Pensarão que, como tantos outros, já estou 'apanhado pelo clima'. Penso as frases com intervalos longos e escrevo-as lentamente, por dificuldade de concentração. Será da emoção, mas os gins também ajudam, certamente.
Um puto quer engraxar-me os sapatos. Digo que sim e dou-lhe cinquenta pesos, uma fortuna para ele. E continuo a assobiar.
Peço mais um gin, o último para o caminho até ao Quartel-General, onde estou bivacado em zona para pessoal em trânsito e conhecida por Biafra. Bebo-o depressa e levanto-me. Os da mesa do lado continuam a olhar. Viro-me para eles e digo: "É uma menina" e, baixinho, quase em sussurro, desato a cantar "Que inveja tens tu das rosas / Se és linda como elas são".
Parto. Sinto que os meus pés entraram em contencioso com as rectas. Que se lixe: vou às curvas, mas sempre a cantar, baixinho, quase em sussurro, só para mim: "Que inveja tens tu das rosas / Se és linda como elas são"...

Beijos,
P.

INTERVALO MUSICAL

segunda-feira, 21 de março de 2016

POESIA, POESIA…



QUE OUVI CANTAR EM PEQUENITO,
RÚTILA COMO O SOL DO MEIO DIA,
ÉS A MÃE  DO RISO E DA ALEGRIA
DEDILHADA NA HARPA  DO INFINITO.

BRILHAS MAIS DO QUE UM COMETA,
MUITO MAIS VELOZ QUE O PENSAMENTO
E, NUM  INSTANTE, SÓ PAIRAS UM MOMENTO
SOBRE QUEM TE AMA E TE OBEDECE.

POR TROMBETAS ME FOSTE ANUNCIADA
NAQUELE DIA JÁ DISTANTE EM QUE NASCI
E, MAIS  DO QUE AOS DEUSES,
FOI A TI QUE ME RENDI
À HORA CERTA DA VERDADE INTEIRA!

- CAMINHEI, CAMINHEI E AINDA TE PROCURO…
QUE SEJA NA HORA DA VERDADE,
NA HORA DAS DESORAS E JÁ MUDO
EU POSSA DIZER-TE QUE TE AMEI!


OH! MINHA MÃE, MÃE IGUAL À LIBERDADE,
QUE SEJA NESSA HORA, QUE SÓ MINHA,
EU POSSA VER-TE, OH! FUGIDIA AMANTE,
OH! ESTRELA LONGINQUA DOS ESPAÇOS
QUE ME TOCA SEM PODER CINGIR-TE!
OH! POESIA, POESIA, OH! POESIA,
FICARÁS COM AS CRIANÇAS
NESTA CHEIROSA PRIMAVERA:

- EU SÓ QUERO UM NOCTURNO DE CHOPIN,
UMA MARCHA NUPCIAL E UMA VALQUIRIA,
UM HINO DE LOUVOR E GRAÇAS
PORQUE EM TI EU ME PERDI SEM TE ENCONTRAR!

EU SÓ QUERO QUE ME BEIJES OS ROXOS LÁBIOS FRIOS,
EU SÓ QUERO QUE SORRIAS NESTA HORA,
OH! DEUSA INOMINADA DENTRO DOS MEUS OLHOS VIDRADOS,
CARINHOSAMENTE, DERRADEIRAMENTE
REZA- ME UMA PRECE, AO MENOS,
AQUELA PRECE A UM POETA QUE TE AMOU,
QUE POR TI E A TI SE ENTREGOU,
UM ADEUS, UMA FLOR NA DESPEDIDA,
PORQUE EU SOU FINITO E TU INTEMPORAL!

Daniel Nobre Mendes

                                                                            
                                                   BIBLIOTECA MUNICIPAL JOSÉ SARAMAGO, BEJA
                                     

DIA MUNDIAL DA POESIA

Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen,

O MONSTRO DA MODA

"Desde muito cedo que me preparei para ser odiado"


Esta afirmação é uma monstruosidade. E o monstro que a disse ao 'Observador' chama-se Henrique Raposo, um reaccionário que escreve no 'Expresso' e que, ainda recentemente, manifestou o seu ódio pelo Alentejo e pelos alentejanos. Estamos conversados.

domingo, 20 de março de 2016

TELENOVELA


Não sou consumidor das telenovelas brasileiras da 'Globo', mas vou acompanhando pela rama a hora dramática da vida política brasileira. Uma telenovela cheia de dramatismo e que não necessita de recorrer à ficção.
O Jardel deixou de voar entre os centrais e voou para a política. Aterrou numa delegacia de polícia e correm os autos. O Lula virou polvo e é, hoje, uma espécie de Jardel, mas em grande, em muito grande. Altos voos entre os empreiteiros, os do Lula. Mas o avião que o levava para uma prisão de alta segurança de S. Paulo foi desviado por um comando terrorista às ordens da 'presidenta' e aterrou num ministério em Brasília. Com intervalos de trinta minutos, é-ministro-não-é-ministro-é-ministro-não-é-ministro-é-ministro-não-é-ministro. Correm os autos, suspense até ao próximo episódio.
Pelo Jardel, para título da novela poderia escolher "Zeca Diabo", mas pelo Lula não há escolha: só pode ser "Pantanal".



sábado, 19 de março de 2016

DE OUTROS

Podemos acreditar que Marcelo Rebelo de Sousa vai ser um óptimo Presidente, mas é de uma enorme irresponsabilidade estético-cultural (mais do que política) poupá-lo a esta evidência: o seu discurso e os prolongamentos que ele teve deram expressão ao que se pode chamar “Kitsch de massa”. Foi a ocasião para assistirmos ao Kitsch elevado a um nível olímpico. A empatia e a operação mimética que produz a emoção são os princípios fundamentais do Kitsch e no plano político sempre estiveram ligados aos rituais de aclamação e foram instrumentos de consolidação do poder constituído. Quem só conhecia as performances orais e teatrais de Marcelo Rebelo de Sousa, na televisão, este discurso escrito, mesmo analisado com a maior indulgência e tendo em conta a circunstância, revela uma elaboração escrita elementar, uma total ausência de densidade. E se não era a ocasião para satisfazer exigentes requisitos, ao menos que mostrasse as virtudes de uma prosa desenvolta, capaz de avançar sem ruído e com perícia. Durante anos, na televisão, o agora Presidente foi um exemplo para a configuração do nosso tempo: aquele em que o gosto das elites coincide com o gosto das massas. Descobrimos agora que o Kitsch é a sua última máscara — a máscara do banal. Não é altura de extrair conclusões sobre as suas qualidades políticas de Presidente. Mas percebemos que, afinal, a verdade do teor intelectual do Presidente pode muito bem ser a do “brilhante” Professor Marcelo tal como ele se exibia na televisão.
António Guerreiro
Público

O CARNAVAL CONTINUA

Dilma: “Todos os corruptos devem ir para a cadeia”

sexta-feira, 18 de março de 2016

AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM LEITOR ESQUISITO



O senhor Barata, livreiro de longo passado e maior prestígio, tinha acabado de realizar o sonho da sua vida: oferecer à cidade de Lisboa, aos seus habitantes e visitantes uma livraria ampla, bem iluminada, bonita, funcional, moderna, complementada com uma galeria de exposições. Gastou tudo o que tinha e, provavelmente, o que não tinha, mas a nova Livraria Barata abriu portas na Avenida de Roma. Um luxo para os livros e para os amantes de livros.
Trabalhava, então, para aquelas bandas e a 'Barata', à hora de almoço ou ao fim da tarde, passou a ser para mim local de paragem obrigatória.

Mas o senhor Barata, António Barata,  também cometeu um erro trágico: contratou três flausinas para ajudantes do senhor Afonso, velho colaborador da casa e conhecedor do mundo dos livros, e esqueceu-se que as raparigas, bonitas e portadoras de saias generosamente minis, precisavam de formação numa área que, de todo, não conheciam. Assim, as pequenas estavam ali a vender livros e revistas com o mesmo 'savoir faire' com que, num supermercado, venderiam margarinas e pensos higiénicos.
Vou contar para que se não pense que exagero: certo dia, livraria cheia de compradores e passeantes, pedi à miúda que me ajudasse a localizar o livro "A Angústia do Guarda-redes Antes do Penalty", do Peter Handke. Riu com gosto, quase à gargalhada, e contou à colega o desplante do meu pedido. Riram as duas. De repente, uma gritou para o fundo da sala: "Oh Afonso, este senhor quer "A Angústia do Guarda-redes Antes do Penalty". Toda a gente a olhar para mim, enquanto o Afonso gritava: "Está nessa prateleira da direita". Saí com o livro na mão, mas um pouco incomodado.
Tempos depois, voltei a solicitar os bons ofícios de uma das pequenas. Disse-lhe: "Quero dois livros, mas preciso que me ajude a localizá-los". "Um de cada vez", pediu-me. E eu disse: "A Pornografia", do Witold Gombrowicz. Fez um sorriso malandreco como se estivesse a falar com um taradão, baixou a voz e confidenciou-me: "Esse, não sei se temos, mas ali naquela estante do canto temos muitos livros pornográficos" e, sem intervalo, disparou aos gritos: "Oh Afonso, este senhor quer "A Pornografia". O livro lá apareceu, mas pelos olhares da clientela, senti que não era tido como um leitor muito sofisticado. Preparei-me para pagar e sair dali depressa. Então, a flausina interpelou-me: "Disse que queria dois livros, qual é o outro?". "Agora estou com pressa. Levo depois", respondi, mentindo.

É que o outro livro que eu queria era do Aragon, tinha sido lançado pela "&ETC" e chamava-se "A Cona de Irene". Agora imaginem a cena: eu ali especado junto ao balcão, a livraria cheia de gente respeitável e a rapariga aos berros: "Oh Afonso, este senhor quer "A Cona de Irene". Porra...

AGENDAS POLÍTICAS



Não sei se no Brasil há juízes e procuradores com uma agenda política. Mas sei que no Brasil há ladrões com agenda política. Lula é um deles.

O BEIJA-MÃO

Por cortesia ou em exibição de aristocrática educação, pode Marcelo Rebelo de Sousa beijar a mão a todas as damas da Casa de Bragança ou, mesmo, a todas as tias de Cascais e arredores dignas de fotografia na revista 'Olá' que ele tão distintamente dirigiu. Pode o beato Marcelo Rebelo de Sousa beijar o anel de todos os bispos, cardeais e papas que se lhe atravessem no caminho, se entender que isso ajudará a sua subida ao Céu.  
Mas o Presidente da República portuguesa, em visita oficial, deve despedir-se do Chefe do Estado do Vaticano com um portuguesíssimo e digno 'bacalhau'. O beija-mão é um acto simbólico de sujeição só tolerável no tempo dos afonsinhos. E esse tempo, como sabemos, já lá vai.

quinta-feira, 17 de março de 2016

OUTROS FUTEBÓIS

Empresa ligada ao narcotráfico envolvida em transferências para o FC Porto

Clube pagou serviços de intermediação ao Grupo Comercializador Cónclave em 2012 e 2013.

LUSOFONIA

quarta-feira, 16 de março de 2016

FEBRE DE SÁBADO À TARDE

1973. Tempos difíceis de resistência e luta. Trabalho até à uma hora de sábado, semana inglesa (a semana americana de sábado livre só viria uns meses depois). Os itinerários da esquerda líquida começavam ao almoço, nas tascas do Bairro Alto e acabavam a altas horas no Jamaica do Cais do Sodré. Pelo meio, visitas prolongadas aos balcões do rés-do-chão e primeiro andar da livraria Opinião, a farejar livros proibidos que o Hipólito escondia da bófia e, depois, vendia aos amigos do reviralho. Subida ao segundo andar, bar da Opinião, para uma sessão de digestivos - whiskies, bagaceiras, coisas assim. 
Cálices nas mãos, revoluções nas línguas, um poema neo-realista e subversivo, uma prosa surrealista e ainda mais subversiva, os amanhãs que cantariam e já estavam ali mesmo ao virar da esquina. Sonhos.
Ao virar da esquina, logo ali ao princípio da rua que desce, não estava nenhum amanhã a cantar. Estava uma tasca sem nome, pequenina, com um balcão minúsculo, duas mesas e oito bancos. Vinte e cinco metros quadrados de território livre onde corria o tinto e desaguavam jornalistas do Bairro Alto, ardinas do jornal República, escritores consagrados e candidatos a escritores, artistas plásticos sem galeria, sem fama, sem proveitos, surrealistas tesos, penduras de todo o tipo, copofónicos ortodoxos e dissidentes, malucos avulso e outra fauna pouco recomendável, mas tudo pessoal de esquerda. Aí, na tasca, território livre e 'PIDE free', de tudo se falava sem sombra de pecado nem censura. E todos aproveitavam para emitir opiniões. 
Guerra do Vietnam? Cá vai disto: origem, análise e perspectivas. E todos botavam discurso. Solicitada opinião a Alcambar, velho repórter policial do jornal República, Alcambar, em voz cava modelada pela correnteza de muitos bagaços e ainda mais cigarros sem filtro, breve, sentenciava: "O caralho, pá".
Guerra colonial? E lá vinham os discursos esclarecidos sobre o seu passado, presente e futuro. E o Alcambar, sempre o último a tomar a palavra, rematava: "O caralho, pá".
Médio-oriente, crise do petróleo? Todos especialistas na matéria. E cada um mais especialista do que o orador anterior. E depois o Alcambar: "O caralho, pá".
O fim do fascismo e o advento da democracia? E lá vinham as teses, as antíteses e as sínteses. E o Alcambar para encerrar o assunto: "O caralho, pá".
"O caralho, pá", a propósito de tudo e de nada, foi a única frase que, em tantas tardes e noites de resistência ao fascismo e aos efeitos do álcool, ouvi da boca do Alcambar.
Tantos anos depois, os jornais do Bairro Alto acabaram, a Opinião faliu, o Hipólito  morreu, a tasca fechou, o Jamaica está para fechar. E, dessas tertúlias saudavelmente ingénuas e loucas, quantas vozes restam para atirar aos ventos as imorredoiras palavras de Alcambar "O caralho, pá"?

MINISTÉRIO DOS DETERGENTES

Lula da Silva aceita ser ministro e consegue imunidade judicial

(Enfim, já é meia confissão).

DE OUTROS

A ascensão da economia a lugar de importância, mesmo relativa, transformou o jornalismo numa mácula desavergonhada. O "economês" destruiu a reportagem e a pesquisa, e reduziu a notícia a uma mascarada. Tudo é esmagado pela lógica dos "mercados". Numa destas televisões, um indivíduo de grave cariz segue o que diz o Financial Times, a bíblia do capitalismo, e nem sequer o oculta. Os convidados que escolhe, para lhe preencher os programas, são de "confiança." Não há crítica, nem debate, nem afrontamento, a não ser que, no Governo, esteja quem não agrade ou não seja da cor do "apresentador." 
Baptista-Bastos 
Jornal de Negócios

terça-feira, 15 de março de 2016

INTERVALO MUSICAL

UMA 'ESCOLA' PORTUGUESA

Há 'Escolas' espalhadas um pouco por todo o mundo. Não há cão nem gato que não tenha ouvido falar da 'Escola' de Paris, da 'Escola' de Frankfurt, da 'Escola' de Chicago, de tantas e tantas outras.
Em Portugal, havia uma falha grave: não tínhamos uma 'Escola' para além da Escola Portuguesa de Arte Equestre, instituição que muito tem feito pela fama dos quadrúpedes de raça lusitana. Conjugo os verbos no passado porque esse vazio foi, finalmente, preenchido. Um grupo de preclaríssimos intelectuais portugueses de renome mundial, do qual fazem parte José Manuel Fernandes, António Barreto, Maria Filomena Mónica, Henrique Raposo, entre outros, em boa hora resolveu fundar uma 'Escola' - a 'Escola Mercearias Pingo Doce'. 
Mas esta nota ficaria incompleta se não ficasse registado o importante papel do senhor Alexandre, o merceeiro. Ele, que no 1º de Maio, já contentava os plebeus com os descontos de 50% no bacalhau, nos detergentes, no papel higiénico e em outros produtos de primeira necessidade, vem agora, no papel de mecenas, fazer a felicidade das elites, permitindo que as suas ideias luminosas fiquem registadas para a posteridade e naveguem por esse mundo fora, em suporte nobre e imortal - o papel. 
A Humanidade, que há séculos nos agradece a descoberta do caminho marítimo para a Índia, vai ter de nos agradecer, por outros tantos séculos, o aparecimento da 'Escola Mercearias Pingo Doce'.
Bem hajam, merceeiro e assalariados. Prá frente, Portugal! 

UM IMENSO ADEUS

 "Serpa está ligada às coisas mais antigas. Sou olfativo, as memórias de infância são cheiros das estevas, dos cozinhados da Bia, o cheiro do meu pai e do meu avô, e os cavalos. O Alentejo é um cavalo a atravessar a planície e o concerto de Aranjuez. Esta imagem pode ser um grande cliché mas não me importo nada."
Nicolau Breyner
Expresso

segunda-feira, 14 de março de 2016

UM CASTELO NA LAPA

Foi lá pelos idos de 1968/ 69. Salazar estava balhelhas - o porradão na cabeça, quando caiu da cadeira, deixara mossas irreversíveis. Sem seu consentimento ou sequer conhecimento, 'clandestinamente', pois, o Cabeça de Abóbora tinha-o substituído pelo Marcelo (o outro Marcelo, não este que está na moda) na chefia do governo. Numa espécie de argumento para o filme 'Good-bye, Lenine', foi erguido uma muro de protecção à volta do hortelão de Santa Comba, cuja vigilância estava a cargo de uns maduros da PIDE com a governanta, D. Maria, a fazer de chefe de brigada.
Hermeticamente separado de tudo o que se passava no país, incluindo as peripécias que iam acontecendo no galinheiro do palácio de S. Bento e que sempre acompanhara de perto, o velhinho, com as botas de elástico que lhe aqueciam os pés e coberto de mantas que lhe aqueciam o tronco e os braços, vivia na ilusão de que ainda era presidente do conselho de ministros. E os 'ministros' ajudavam e lá iam 'a despacho' com o velho ditador. 
Com o PaSSos Coelho passa-se algo de muito parecido. Não estou a dizer que ele está tão balhelhas como o Salazar ou que tenho notícia que o 'ministro' Relvas, o 'ministro' Crato ou o 'secretário de Estado' Francisco José Viegas continuam a 'despachar' com ele, embora conste que a 'ministra' Maria Luís lhe pediu parecer, antes de aceitar a ignóbil tachada na Arrow Global. Mas o homezinho apresenta sinais exteriores e tem tiques de quem está convencido que continua a chefiar o governo: ele é o pin nacionaleiro, ele é a inauguração da escola, ele é o discurso 'de Estado'.
Provavelmente, há uma explicação para isto. É que a criatura, que governou o protectorado com a mesma autonomia com que os de Vichy governaram a França, ainda não se apercebeu que a sede do pêpêdê não fica no castelo de Sigmaringen.
Por caridade, apenas por caridade, haja alguém que lhe diga que a senhora Merkel tem mais que fazer e não tem tempo para se preocupar com o futuro dos seus ex-mordomos.

DE OUTROS


Portugal largou Cavaco como se mudasse de pele. Nenhuma transição desde o fim da ditadura gerou este alívio, quase uma libertação nacional. 

Alexandra Lucas Coelho
Público

ANOS 30?

Extrema-direita alastra e impõe-se como força política na Alemanha