sábado, 31 de janeiro de 2009

UM SÍTIO MAL FREQUENTADO


Destaques do 'DN' online:
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Ministério Público volta a investigar SIRESP Polémica. É mais uma decisão do governo em gestão de Pedro Santana Lopes: a adjudicação a um consórcio liderado pela Sociedade Lusa de Negócios do sistema de comunicações único para polícia e protecção civil. O caso foi arquivado, mas a procuradora Cândida Almeida está a ponderar a (…)
Carta ficou três anos esquecida Investigação. A carta rogatória enviada a Inglaterra pela Procuradoria-Geral da República em (…)
Em 2008 o crime violento aumentou entre 8 e 12% Segurança. É cada vez maior a pressão para o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, (…)

WEST COAST








OUTLETJACKING

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

UM IMENSO ADEUS


«Portugal é uma nação enferma, e do pior género de enfermidade, o langor, o enfraquecimento gradual que, sem febre, sem delírio, consome tanto mais seguramente quanto se não vê órgão especialmente atacado, nem se atina com o nome da misteriosa doença. A doença existe, todavia. O mundo português agoniza, afectado de atonia, tanto na constituição íntima da sociedade, como no movimento, na circulação da vida política.»
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ANTERO DE QUENTAL

A FORÇA DAS PALAVRAS


Em Portugal, há palavrinhas que têm efeitos mágicos:
Corrupção - quando aparece ou simplesmente se insinua, aí temos os partidos - todos os partidos - com o enjoativo discurso do politicamente correcto.
Ética - quando é evocada, induz o silêncio e aí temos os partidos - todos os partidos - a correrem para os abrigos.
No fundo, compreende-se: a vida está difícil e os partidos precisam de financiamentos. E se, no meio disto tudo, aparecem casos de enriquecimento sem causa, tanto melhor. Matam-se dois coelhos com uma única cajadada.
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PM

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ÉTICA REPUBLICANA


Era uma vez um ministro da Indústria e Tecnologia a quem, um dia, disseram: «O seu filho está preso por andar a assaltar bancos».
Sobre o ministro não recaíam, inequívocamente, quaisquer suspeitas. Apesar disso, o senhor renunciou imediatamente ao cargo e desapareceu de cena.
Era uma vez um tempo em que a ética republicana se sobrepunha às glórias do momento e à 'vidinha' futura.
Velhos tempos. Século passado. Coisas fora de moda.
O governo também era socialista, mas as pessoas que o formavam regiam-se por códigos mais exigentes.
Bom, não façam caso. Isto sou eu a ficar velho.
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PM

AS CRISES


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Já tínhamos a crise da selecção de futebol.
Já tínhamos a crise da justiça.
Já tínhamos a crise da educação.
Já tínhamos a crise financeira.
Já tínhamos a crise económica.
Já tínhamos a crise social.
Já tínhamos a crise da moral.
Neste bolo de crises faltava a cereja: a crise política.
Ela aí está e é grave.
Resta-nos gritar «óh tio, óh tio» e pedir asilo político à Guiné-Bissau.
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PM

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

UM IMENSO ADEUS


«Negoceia-se constantemente essas garantias sobre coisas virtuais, trafica-se em volta dessas negociações. Tudo negócios imaginários, especulações sem outro objectivo ou objecto a não ser elas mesmas e que formam um imenso mercado artificial, acrobático, baseado em nada a não ser sobre ele próprio, longe de qualquer realidade que não a sua, em círculo fechado, fictício, imaginado e incessantemente complicado por hipóteses desenfreadas a partir das quais se extrapola. Nele especula-se até ao infinito, em direcção ao abismo, com base na especulação. E na especulação das especulações. Um mercado inconsistente, ilusório, fundado em simulacros, mas enraizado neles, delirante, alucinado ao ponto de se tornar poético.»
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1ª edição portuguesa: Abril de 1997
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

PIERRE BÉRÉGOVOY





A idade, a célebre PDI, encarrega-se de nos retirar muitas fontes de prazer: a vista, o ouvido, a memória, a capacidade de resposta das 'partes baixas' às solicitações 'pecaminosas', etc., etc., etc.
Hoje, lembrei-me de Pierre Bérégovoy, ex-primeiro-ministro de um governo socialista (em França) e constato que a PDI também nos rouba o prazer da novidade.
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O IMPREVISÍVEL








O ministro das finanças é tão imprevisível nas previsões que sou levado a pensar que o «Finantial Times» tinha razão quando o considerou o pior ministro das finanças da Europa.

UM IMENSO ADEUS


«Viemos também a este lugar sagrado para lembrar à América a grande urgência da hora presente. Não podemos continuar a dar-nos ao luxo de adiar ou tomar o tranquilizante que é o gradualismo. Chegou a hora de cumprir as promessas da democracia. Chegou a hora de sair do negro e árido vale da segregação para a estrada soalheira da justiça social. Chegou a hora de arrancar a nossa nação às areias movediças da injustiça racial e implantá-la no rochedo sólido da fraternidade. Chegou a hora de fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria uma fatalidade se a nossa nação ignorasse a urgência do momento. Este Verão abrasador do legítimo descontentamento do Negro não vai acabar enquanto não chegar um Outono revigorante de liberdade e igualdade. Mil novecentos e sessenta e três não é um fim mas sim um princípio. Aqueles que pensam que o Negro só estava a precisar de expelir um bocado de vapor e agora vai ficar satisfeito vão ter um despertar agitado se o país voltar ao mesmo, como se nada tivesse acontecido.
Não haverá sossego nem tranquilidade na América enquanto o Negro não vir garantidos os seus direitos de cidadania. Os turbilhões da revolta irão continuar a abalar os alicerces da nossa nação até que nasça o dia radioso da justiça.»

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ESTÔMAGO FRACO


O cherne estragado causa-me vómitos:
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"Este é o momento de um compromisso renovado entre Europa e EUA", afirmou o presidente da Comissão Europeia (CE, órgão executivo da UE), José Manuel Durão Barroso, que pediu que o futuro Governo americano e o bloco europeu promovam juntos um "novo multilateralismo que possa beneficiar todo o mundo".

20 DE JANEIRO



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UMA LÁGRIMA POR
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AMÍLCAR CABRAL

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O PODER










Há quatro anos, o poder foi disputado entre um manequim e um alternadeiro.

Este ano, a avaliar pelos discursos do fim-de-semana, vai ser disputado por um publicitário e uma 'vizinha'.
Resta-me a esquerda caviar ou o exílio político na Guiné-Bissau.
Vou reflectir.
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PM

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

UM IMENSO ADEUS


«La guerre totale, c'est cela aussi: le civil, ça n'existe plus, et entre l'enfant juif gazé ou fusillé et l'enfant allemand mort sous les bombes incendiaires, il n'y a qu'une différence de moyens; ces deux morts étaient également vaines, aucune des deux n'a abrégé la guerre même d'une seconde; mais dans les cas, l'homme ou les hommes qui les ont tués croyaient que c'était juste et nécessaire; ils se sont trompés, qui faut-il blâmer? Ce que je dis reste vrai même si l'on distingue artificiellement de la guerre ce que l'avocat juif Lempkin a baptisé le génocide, en notant qu'en notre siècle du moins il n'y a jamais encore eu génocide sans guerre, que le génocide n'existe pas hors la guerre, et que comme la guerre, il s'agit d'un phénomène collectif: le génocide moderne est un processus infligé aux masses, par les masses, pour les masses».
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PALAVRAS PERIGOSAS


O cardeal patriarca de Lisboa não é nenhum matarruano. Pelo contrário: é um homem inteligente, culto, tolerante. Por isso, dele, não se esperavam estas palavras de conselho às mocinhas casadoiras, proferidas no casino da Figueira da Foz:«Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem, pensem muito seriamente, é meterem-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam.»
Sabendo que os deuses não frequentam casinos nem outros lugares de perdição, os seus representantes na Terra, frequentadores de tais antros, devem redobrar as cautelas já que, aí, a inspiração divina não os guia.
Foi, certamente, o caso. Acontece a qualquer mortal. Felizmente, o alerta esqueceu os ciganos, os comunistas, os judeus.
Vão longe os anos trinta do século passado, mas os casinos continuam por aí. E são um perigo, como se constata.
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PM

TV GUIA



RTP 1 - 14 e 15 de Janeiro - 21,30H

Luta de libertação para uns, guerra de África para outros: o conflito que, entre 1963 e 1974, opôs o PAIGC às tropas portuguesas é visto, desde logo, de perspectivas diferentes por guineenses e portugueses. Mas não são essas as únicas “duas faces” desta guerra: mais curioso é que, para lá do conflito, houve sempre cumplicidade: “Não fazemos a guerra contra o povo português, mas contra o colonialismo”, disse Amílcar Cabral, e a verdade é que muitos portugueses estavam do lado do PAIGC. Não por acaso, foi na Guiné que cresceu o Movimento dos Capitães que levaria ao 25 de Abril. De novo duas faces: a guerra termina com uma dupla vitória, a independência da Guiné, a democracia para Portugal. É esta “aventura a dois” que queremos contar, pelas vozes dos que a viveram.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O JOGO DAS EMOÇÕES




Diz o jornal 'A Bola' que o senhor primeiro-ministro se emocionou com o prémio ontem atribuído pela FIFA a Cristiano Ronaldo.
Segundo fontes fidedignas, também Cristiano Ronaldo ficou emocionado com a leitura do livro «José Sócrates - O Menino de Ouro do PS» e com o 'prémio' do jornal «El Mundo» atribuído ao elegante Pinto de Sousa.
Assim, e neste momento, o resultado deste jogo de campeões emocionados é o seguinte:
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Ronaldo 2 - Sócrates 1.
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PM

UM IMENSO ADEUS


«Cerbère, donde los gendarmes franceses humillaban en el invierno de 1939 a los soldados de la República Española, los injuriaban y les daban empujones y culatazos; Port Bou, donde Walter Benjamin se quitó la vida en 1940; Gmund, la estación fronteriza entre Checoslovaquia y Austria, donde alguna vez se encontraron Franz Kafka y Milena Jesenska, citas clandestinas en el paréntesis de tiempo de los horarios de los trenes, en la exasperada brevedad de las horas que ya estaban agotándose en cuanto se veían, en cuanto subían hacia el cuarto inhóspito del hotel de la estación, donde el paso cercano de los trenes hacía vibrar los cristales de la ventana.
Cómo sería llegar a una estación alemana o polaca en un tren de ganado, escuchar en los altavoces órdenes gritadas en alemán y no comprender nada, ver a lo lejos luces, alambradas, chimeneas muy altas expulsando humo negro. Durante cinco días, en febrero de 1944, Primo Levi viajó en un tren hacia Auschwitz. Por las hendiduras en los tablones, a las que acercaba la boca para poder respirar, iba viendo los nombres de las últimas estaciones de Italia, y cada nombre era una despedida, una etapa en el viaje hacia el norte y el frío del invierno, nombres ahora indescifrables de estaciones en alemán y luego en polaco, de poblaciones apartadas que quase nadie por entonces había oído nombrar, Mauthausen, Berger-Belsen, Auschwitz. Tres semanas tardó Margarete Buber-Neumann en llegar desde Moscú hasta el campo de Siberia en el que debía cumplir una condena de diez años, y cuando habán pasado sólo tres y le ordenaron que subiera de nuevo a un tren hacia Moscú pensó que iban a liberarla, pero en Moscú el tren no se detuvo, continuó viajando hacia el oeste. Cuando por fin se detuvo en la estación fronteriza de Brest-Litovsk los guardias rusos le dijeron a Buber-Neumann que se diera prisa en preparar su bolsa, que habían llegado a territorio alemán. Entre los tablones que cegaban la ventanilla vio en el andén uniformes negros da las SS, y comprendió con espanto, con fatiga infinita, que porque era alemana los guardias de Stalin iban a entregarla a los guardias de Hitler, en virtud de una cláusula infame del pacto germano-soviético.»

EM TERRA, NO MAR (E NA PONTE)


Do «Correio da Manhã»:
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Não pediam um tostão que fosse a mais pela inscrição no curso e, em dia de exame, os directores das duas escolas náuticas ainda brindavam os alunos com mensagens por telemóvel a dar as respostas certas. Objectivo: garantir taxas de aprovação a roçar os cem por cento e atrair centenas de clientes de Norte a Sul do País. Arrasando a concorrência. Só que o crime foi denunciado à Polícia Judiciária e, apurou o CM, entre os 40 alunos suspeitos de corrupção está Joaquim Ferreira do Amaral – o actual presidente da Lusoponte que foi ministro de Cavaco Silva e candidato à Presidência da República.

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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

É A GRAMÁTICA, ESTÚPIDA


Este naco de prosa, se sujeito a exame de 'português técnico' na Universidade Independente, seria, certamente, classificado com 15 valores (pelo menos). Leiam e divulguem já que o Instituto Camões não tem orçamento para o fazer:
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Ex.mo(a) Senhor(a)
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Director(a) / Presidente do Conselho Executivo
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Como é do conhecimento de todos, têm vindo a ser entregues nas escolas do Norte, cerca de 4 000 Magalhães/dia por parte de empresas distribuidoras e da própria Direcção Regional de Educação do Norte.
A distribuição continua ao mesmo ritmo e por isso gostaria de recordar as indicações que anteriormente já enunciei:
1. Embora os computadores entregues não correspondam à totalidade da encomenda, tal só significa que haverá novas distribuições;
2. Os computadores recebidos devem ser enviados pela escola para casa, no próprio dia de entrega, sem mais qualquer delonga;
3. Em Janeiro, deverá ser marcado um dia em que as crianças devem trazer os Magalhães, para iniciar o trabalho casa-escola.
4. O pagamento dos Magalhães, nos casos em que a isso os pais sejam obrigados, estão a receber informação por sms devendo, em todas, constar a entidade 11023;
5. Caso o número de computadores de entrega, não corresponda com o número presente na guia de remessa, deve o facto ser mencionado directamente nesta, referindo o número total recebido.Tal facto não impede que, de imediato, se recebam os computadores apresentados;
6. O Ministério da Educação tem perfeita consciência das dificuldades que este tipo de acção de massas acarreta às escolas e, embora esta situação lhe escape entende que o mais importante é a recepção dos Magalhães, como mais valia almejada pelos nossos alunos, e por isso agradece toda a colaboração e compreensão dos orgãos de gestão, dos professores e dos serviços administrativos e auxiliares.
7. Quando um encarregado de educação recebe sms e é do escalão A, deve ser reportado e naturalmente o computador entregue ao aluno;
8. Outras situações anómalas devem ser sempre imediatamente reportadas para o nosso mail dsgm@dren.min-edu.pt;
8. Recorda-se ainda que as escolas que ainda não procederam à encomenda do Magalhães o devem fazer com celeridade.
Com os melhores cumprimentos,
A Directora Regional de Educação do Norte
Margarida Moreira

domingo, 11 de janeiro de 2009

O REGRESSO DO GÉNIO


O homenzinho julga-se um génio. Aos quatro anos lia Mark Twain e Oscar Wilde (disse ele à revista 'Ler'). Agora, e após um longo silêncio, em inequívoco delírio criativo, publicou três importantes livros que vêm contribuir de maneira indelével para o enriquecimento do património cultural português: «Com os Copos», «Em Portugal não se Come Mal» e «Os Senhores da Má Língua», este em co-autoria com outros dois grandes vultos da cultura nacional - Rui Zink e Manuel Serrão.
A pretexto desta última 'obra', a revista 'Única', do 'Expresso', ouviu o génio, vestido de talhante, comunicar ao mundo esta assombrosa descoberta: «Quando o Balsemão fundou o 'Expresso', foi uma revolução total nos 'media'. Na altura, era estonteante a liberdade que se tinha para dizer tudo». As entrevistadoras jovens(?), jornalistas(?), ignorantes(?), distraídas(?), tudo isto em acumulação(?) não fizeram notar ao ilustre cientista social que, em 1973, em Portugal, a imprensa estava sujeita a um brutal 'Exame Prévio' (eufemismo marcelista para Censura), como, aliás, o próprio 'Expresso' tem documentado nos últimos meses com razoável destaque.
Mas a genialidade não fica por aqui. É igualmente demonstrada em crónica publicada na folha dirigida pelo 'neocon' Fernandes. Assim: «A verdade é que tanto o calor como o frio dão tesão. As temperaturas intermédias também».
O homenzinho julga-se um génio. É um artista português chamado Miguel Esteves Cardoso (MEC para os amigos e admiradores). Que Deus o ajude e lhe guie os passos até às pistas do Coliseu dos recreios.
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PM

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

UM IMENSO ADEUS


«Vagas vozes soavam distantes, e, por entre elas, um rádio, ou mais que um, gralhava. Era numa taberna, dentro da qual muita gente se acumulava ouvindo-o, que estava o mais próximo. Eu, no mesmo passo distraído em que vinha, derivei para a porta. A voz, rouca e excitada, dirigia-se violentamente aos inimigos da civilização cristã, exortando-os a deporem as armas, antes que fossem aniquilados pelas forças conjugadas do nazi-fascismo, increpava a França e a Inglaterra, com ironias que se faziam ainda mais roufenhas do que a voz, pela tibieza e a duplicidade com que agiam, manietadas pelas traições da democracia judeo-comunista, e trilava, em estridências não menos roucas mas mais trémulas, para informar os heróicos defensores do Alcázar de Toledo que estivessem seguros de que o mundo lutava em espírito ao lado deles, pois que, nessa mesma tarde, embora a informação não fosse oficial, o Governo Português oferecera, respondendo às provocações de que era objecto, o seu apoio incondicional ao general Mola, um dos gloriosos chefes da revolução libertadora. A presciência política do chefe do Governo, desse português da têmpera do Condestável Nuno Álvares Pereira e do Infante D. Henrique, porque, como o primeiro salvara a pátria na hora do perigo, e como o segundo pusera-a no caminho dos seus altos destinos, que era o das caravelas que afoitamente penetravam no Mar Tenebroso da decadência das nações entregues ao banditismo vermelho, essa presciência, essa sabedoria haurida nas mais fundas fontes da nacionalidade, não precisara de esperar pelo formalismo de um governo espanhol, para declarar-se à face do mundo, visto que, na guerra santa, o Governo estava na indestruti...tili...tiri...tibilidade - concluiu triunfantemente - da união das armas e dos corações. E, já num grasnido engasgado de tosse, acrescentou ainda: - Heróicos cadetes de Alcázar, flores da juventude da Espanha, podeis dormir descansados, com as cabeças pousadas nas vossas armas devotadas. Como as vossas sentinelas que assistem de olhos esbugalhados à destruição bárbara da vossa catedral em que jaz um rei de Portugal, mas que velam, Salazar está convosco. Ele vela, ele vela! Morte aos inimigos da nossa pátria.»

TRÊS HORAS


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Israel concede uma trégua de três horas diárias para permitir que aos civis da faixa de Gaza chegue auxílio humanitário (comida e medicamentos).
E, assim, os palestinianos morrerão com três horas de atraso em relação ao horário inicialmente previsto e de barriguinha aconchegada.
Como se vê, ainda há gente boa neste mundo...
PM

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

DE OUTROS


1 . Feito o balanço do ano terrível de 2008, é o momento de reflectirmos sobre o que aí vem - ou nos parece que vem, porque as previsões são falíveis - em 2009. 2008 foi terrível por efeito do colapso do neoliberalismo (de consequências tão sérias como o colapso do comunismo), que conduziu à grande crise global do capitalismo financeiro-especulativo e ao descrédito ético, político e económico do sistema em que temos vivido, no Ocidente, na última década ou talvez um pouco mais...Mas foi também um ano de mudança, porque temos de procurar um novo paradigma, visto que, manifestamente, o que tínhamos não serve. Trouxe corrupção, numa escala nunca vista, falências, desconfiança, desemprego, desigualdades, mais pobreza, e quem sabe se trará ainda revoltas, fruto do descontentamento...
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(Mário Soares - DN 6.1.2009)
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ÉPOCA DE TRANSFERÊNCIAS


Por uma simples questão de justiça, aquele grupo folclórico que o Trofense aviou com 2-0 devia ser transferido, já em Janeiro, para o Estrela da Amadora. Ficariam os elementos do grupo, finalmente, com os ordenados que merecem. A saber: ZERO.
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PM

A ENTREVISTA


A entrevista de José Sócrates à SIC-Notícias revelou a toda a gente uma evidência: o homem é um político balofo e fútil. (Deixo aqui uma pequena ilustração recolhida do último número da revista 'Visão': «Todos os anos há uma grande curiosidade em torno da prenda que José Sócrates recebe dos seus ministros. Este ano, além da curiosidade, o presente - um cheque de 2550 euros para gastar, em roupa, na Fashion Clinic - originou polémica. Em comunicado, a União de Associações do Comércio e Serviços manifestou a sua «profunda indignação» e defendeu que os membros do Governo não devem «servir de veículo promocional a uma marca»).
A criatura chegou onde está saltitando por cima dos buracos deixados pelos desertores que o antecereram. Recordemos: Guterres desertou do governo e do PS, Barroso desertou do PSD e do governo, Ferro Rodrigues desertou do PS. O tapete vermelho para a glória foi trazido por esse «misto de Zandinga e Gabriel Alves» chamado Santana Lopes.
A propaganda disfarçou-lhe as insuficiências políticas e culturais, durante três anos. A recessão económica vai deixar a nu a sua verdadeira dimensão. E não há fatos de marca nem santas manuelas que lhe valham. O ano de 2009 deixará à vista de todos o que é, verdadeiramente, «o pior da tralha guterrista».
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PM

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

AS REPÚBLICAS



Programa do 'Clube dos Pensadores' para o primeiro trimestre de 2009:

No primeiro mês do ano, o debate sobre o tema “A refundação da República” contará com a presença de Alberto João Jardim, enquanto que em Março decorrerá a apresentação do livro “Clube dos Pensadores”, da autoria do fundador do Clube, Joaquim Jorge, e que terá a presença de Pedro Santana Lopes que fez o seu prefácio.

Este camarada da fotografia aguarda vez para dissertar sobre 'A Refundação da República das Bananas'.

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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O FIM DO IMPÉRIO







Mensageiro vestido a rigor para anunciar o fim do Império.
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Guiné 1971

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

UM IMENSO ADEUS


CONTRA VENTOS E MARÉS
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MARIA EUGÉNIA VARELA GOMES
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(Entrevista a Maria Manuela Cruzeiro)
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CAMPO DAS LETRAS
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«Pouco passava das nove da manhã, quando a rádio transmitiu a notícia: naquela noite dera-se uma tentativa de assalto ao quartel de Beja, nela morrera o sub-secretário do Exército, e o chefe da intentona, Capitão Varela Gomes, encontrava-se internado e mal, no hospital de Beja. Eu já sabia, mas, mesmo assim, foi como se o mundo se desmoronasse sobre a minha cabeça. Queria partir imediatamente para Beja, mas ainda tinha algo a fazer antes: tentar que o movimento seguisse para a frente, mesmo sem o João, gesto desesperado e inútil. Fui encontrar-me com o Robin de Andrade, no jardim perto da casa dele. Estava dentro do assunto, ele que pusesse a máquina militar em movimento. Vã tentativa. Acompanhou-me de regresso a casa da Irene, onde também apareceu o meu irmão Fernando, o fiel amigo de sempre, a quem mais uma vez entreguei os meus filhos. O meu pai e o meu irmão Luís, que deveria embarcar dentro de dias mobilizado para África, vieram buscar-me no carro deste.
E assim, com a morte na alma, parti para Beja.
(...)
Quando avistei o João na maca, partiu-se alguma coisa dentro de mim: parecia ter perdido vinte quilos, pálido a mais não poder ser, pouco acordo dava de si. Percebi que estava mal, mesmo muito mal. Mas ainda lhe falei e lhe prometi que, mesmo não podendo estar a seu lado, estaria lá fora e nunca o abandonaria: «Meu soldadinho, agora é preciso ânimo e lutar pela vida. Eu conto contigo!», ainda lhe disse, mas, nesse momento, já tinha dois pides agarrados ao meu braço, a puxarem por mim, dizendo que tinham ordens de Lisboa, proibindo a minha presença ali. E lá fui arrastada para fora do hospital.».
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UM IMENSO ADEUS


TEMPO DE RESISTÊNCIA
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VARELA GOMES
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(LER EDITORA)
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«Recordo os oito dias do Hospital de Beja através da névoa de um sonho captado a lampejos.
Estava entubado pelo nariz até ao estômago, tinha os intestinos de fora, um dreno de grosso calibre no flanco, os tornozelos ao alto para admissão de plasma e soro, mais soro pelos braços. Vejo-me rodeado de aparelhagem, pessoal clínico, pides e genherres, um deles postado aos pés da cama de capacete e arma aperrada como se eu me pudesse evaporar de um momento para o outro.
O Vilar morria na cama ao lado uma expressão de profunda paz no rosto, com as mãos agarradas às de uma jovem auxiliar de enfermagem, Mariana, de nome alentejano que não mais esqueci.
Do «écran» ao fundo, galeria ou corredor envidraçado, baionetas e batas, figuras trotando a olhar de soslaio, sai um pássaro negro, um padre, que avança sobre mim. Não sei como, consegui reunir energia e lucidez para reagir ironicamente. Levanto o indicador, balanço-o por cima do peito em sinal de recusa, ao mesmo tempo que digo: «Sou budista». O resultado foi milagroso. Parecia uma cena de exorcismo medieval, com o diabo (neste caso o padre) fugindo aos saltos pela direita alta do «écran», como se lhe tivessem pegado fogo ao rabo. E por lá desapareceu aos gritos: «comunista, comunista é o que o senhor é», acrescentados de uns tantos desaforos, cujos termos me passaram da memória, mas que lembro me terem provocado o comentário: «Que vergonha! Um padre que vem insultar pessoas a morrer.»
Ainda hoje evoco o compartimento para onde eu e o Vilar tínhamos sido atirados como uma espécie de câmara mortuária. E talvez fosse essa exactamente a intenção, considerando o género de tratamento que me fora facultado quando dei entrada no hospital, altas horas da manhã.
O médico que apareceu limitou-se a desinfectar os rasgões de entrada e saída das balas, a cobri-los com adesivo e a despachar-me para a dita câmara. E só aí não me finei devido à acção do chefe da equipa cirúrgica enviada de Lisboa, para reforço da cobertura hospitalar da cidade.»
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