sexta-feira, 25 de março de 2016

LEITURA IRRITÁVEL, MAS OBRIGATÓRIA



Eles andam por aí. Só na rua, abandonados, andam mil e setecentos (uma aldeia inteira). Nos hospícios, nas associações de apoio, no seio de famílias martirizadas andam os restantes. E os restantes são muitos: cento e dez mil, dizem as estatísticas (uma cidade com a dimensão de Coimbra). São os stressados de guerra, os doentes crónicos que a guerra colonial gerou e pariu, durante treze anos.
Por comodismo e má consciência, o país finge ignorar a sua existência.
João Paulo Guerra, no romance "Corações Irritáveis", ficcionando sobre casos extremos, numa prosa fluída e em português de lei, levanta o véu e mostra a incómoda realidade. Choca-nos, e ainda bem. Mas é exactamente por isso que a leitura do livro se torna obrigatória.