segunda-feira, 29 de setembro de 2008

DO BLOGUE MEDITAÇÃO NA PASTELARIA

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O charme discreto do Forte de Peniche (que eu não sabia que tinha)
Para mim, Peniche foi o neo-realismo avant la lettre. Eu odiava ir a Peniche. A camioneta era ronceira, o caminho longo, às curvas, o vómito infalível. Dormíamos num quarto alugado pela minha mãe a uma mulher de luto, que também servia refeições.
Lembro-me do barulho do mar e dos lençóis pejados de humidade à noite.
No Forte propriamente dito havia uma sala com um vidro comprido, depois um corredor e outro vidro e depois o meu pai. Ele às vezes não aparecia porque fazia greve às visitas.
Durante estes anos, nunca falou muito da sua estadia lá. Uma vez contou-me que os presos do PC tinham um rádio mas que não o emprestavam assim de qualquer maneira. Os "outros" só podiam ouvir as emissoras previamente aprovadas pelo partido.
Eu própria, lembro-me de pouca coisa. Mas sei que odiava ir a Peniche. [Pelo contrário, ir visitar o meu pai ao Hospital de Caxias era uma festa. Comíamos juntos à mesa e havia um quadro preto com giz onde eu podia desenhar. Chegávamos lá por um caminho de chorões e fazia sol.]
Agora querem fazer de Peniche uma Pousada. A Câmara não se opõe:
«A atractividade daquela fortaleza é por força desse passado e isso só enriquece esse espaço e será nesse espírito que a construção da pousada deve ser feita.»
Ó SUA BESTA, IMPORTA-SE DE REPETIR?!!!

A TERCEIRA VIA

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Tony Blair, ex-primeiro-ministro da Grã-Bretanha, chegou esta segunda-feira a Lisboa para a 10ª Conferência Internacional do Diário Digital, que se realiza hoje no Hotel Altis, na capital, com o tema: «Política, Economia e Energia: desafios para 2009».

Esperemos que fale da Cimeira dos Açores, das informações aí trocadas sobre armas de destruição maciça (o porteiro disse à TSF que lhe tinham dado informações falsas), dos seiscentos mil mortos no Iraque , das recentes 'nacionalizações' de bancos ingleses e, já agora, diga aos indígenas se na 'terceira via' também vai haver portagens pagas pelos utilizadores, em 2009.

PM

A TORRE DE BELÉM A HOTEL DE CHARME, JÁ!

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A 'allarvidade' continua e para melhoria da sua cotação bolsista aqui deixo duas sugestões: transformem o Mosteiro dos Jerónimos em pousada da juventude e a Torre de Belém em hotel de 'charme'. E para quem pensa que isto é uma piada de mau gosto, aqui fica com a devida vénia ao blogue CAMINHOS DA MEMÓRIA:




Peniche: de Prisão a Pousada?Posted by Irene Pimentel under Notícias, Vária
Segundo noticiou o jornal Público, de 25 de Setembro de 2008, a Fortaleza de Peniche vai ser transformada em Pousada de Portugal, devendo abrir portas até 2013. «Com um investimento previsto de dez a 15 milhões de euros, a nova unidade deve compatibilizar a função hoteleira com a “preservação da memória da prisão política”» - disse António Correia, presidente da Câmara de Peniche. O autarca acrescentou que essa «pousada será diferente», pois «será construída num local que é visitado por milhares de pessoas à procura da memória do que ali se passou» (*).
Esta declaração parece uma anedota (de mau gosto).
Será que o Sr. Presidente da Câmara está à espera de «clientes» bebam um copo, num hipotético bar, erguido junto ao «parlatório», onde os familiares visitavam os presos políticos com uma placa de vidro encimado por uma rede de permeio e os guardas a vigiarem? Ou que dêem um mergulho na piscina, junto à «furna» isolada em cimento, que servia de «segredo», para punir os presos políticos? Ou ainda que façam parapente para o mar, ou escalada dos muros, para reviver as fugas audaciosas dos presos políticos?
As declarações do autarca de Peniche revelam também que a questão da preservação da memória está a «passar» em Portugal e até a tornar-se numa moda. Não se trata porém de criar espaços museológicos, necessários a um trabalho de memória, que não só a possa preservar, pacificá-la nos que sofreram a repressão da ditadura de Salazar e Caetano, como servir de ponte actuante entre o passado, o presente e o futuro, bem como de solidariedade entre as gerações. Não. O que se pretende é utilizar a mesma memória para efeitos comerciais, até com algo de macabro. Pelos vistos, o exemplo da sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso em Lisboa, transformada em condomínio de Luxo, «pegou». Só que desta vez, até uma propriedade pública que serviu de centro de detenção política para os opositores a Salazar e Caetano cumprirem as penas a que eram condenados pelos Tribunais Plenários do Estado Novo parece poder vir a ser transformada numa Pousada de Portugal privada.
(*) A notícia também refere que do grupo Pestana-Pousadas de Portugal fará essa transformação, ao abrigo de um contrato que já terá já sido assinado, no passado dia 25, entre ele e os organismos estatais Turismo de Portugal, Enatur (Empresa Nacional do Turismo) e Direcção-Geral do Tesouro e Finanças.
Texto integral da notícia.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

HISTÓRIAS DE AMOR

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Saiu agora a segunda edição de 'Histórias de Amor', de José Cardoso Pires, Edições Nelson de Matos. A primeira edição saiu em Julho de 1952 e, um mês depois, foi retirada do mercado por iniciativa da Censura salazarista.

A presente edição assinala, com recurso a sobreposição de uma rede de cinzento, as partes do texto que levaram os coronéis da Censura a proibir o livro e presta-nos, assim, dois serviços: põe no mercado e ao nosso alcance um livro que poucos portugueses conheciam e revela-nos a imbecilidade de um regime sobre o qual insistentemente se deita lexívia para fins de branqueamento (estamos todos lembrados de como o serviço público de televisão levou à 'eleição' de Salazar como português mais importante da história de Portugal...).

Sobre a qualidade da prosa de Cardoso Pires, está tudo dito e por gente muito qualificada, pelo que, aqui, não se adianta nada. Sobre a estupidez da Censura salazarenta, muito está por dizer, pelo que aqui deixo duas das muitas frases que levaram à proibição do livro e apenas como exemplos demonstrativos:

'Estava quase ajoelhada sobre o rapaz, a apontar as marcas que o baton deixara no peito e no travesseiro';

'Com a coberta enrodilhada aos pés, o jovem fitava-a. Estava nu e fitava-a'.

E foi assim durante mais vinte e dois anos, com os coronéis da Censura a defenderem a Pátria de todas as ideias subversivas. Há quem tenha saudades. Eu tenho vergonha.

PM

ATRASOS SUSPEITOS

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Justiça

Lei contra pedófilos há um ano na gaveta A anunciada lei para impedir os pedófilos de trabalharem com crianças está há um ano na gaveta. A medida consta da Convenção Europeia contra os abusos sexuais, assinada por Portugal a 25 de Outubro de 2007, mas ainda não foi posta em prática, apesar de prometida para o ano de 2008.

(Correio da Manhã, 26 de Setembro de 2008)

Pois, pois...

PM

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

MENOS ESTADO, MELHOR ESTADO

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Menos Estado:
- O que permite práticas fraudulentas nos mercados;
- O que tem 'reguladores' que não regulam.

Melhor Estado:
- O que utiliza dinheiro dos contribuintes para compra de 'activos problemáticos' e, assim, salva da bancarrota instituições financeiras privadas.

Enfim, a 'ética' neoliberal no seu melhor.

PM

terça-feira, 23 de setembro de 2008

CONTRA A ESPECULAÇÃO

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A DECO INCITA TODOS OS CONSUMIDORES A REALIZAREM UMA JORNADA NACIONAL DE PROTESTO, NO PRÓXIMO DIA 27, SÁBADO, PEDINDO-LHES QUE NÃO ABASTEÇAM OS SEUS VEÍCULOS DURANTE TODO O DIA.

domingo, 21 de setembro de 2008

CINCO ESTRELAS

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Confesso que, depois de os aturar três anos, não fiquei com muita consideração pelos militares. Por várias razões e, desde logo, por esta: na tropa, os homens tinham número e os cavalos tinham nome. Por estas e por outras (muitas outras) se dizia que uma vez militarizados todos os civis, só faltava civilizar todos os militares. (Para os mais jovens ou mais esquecidos, aqui se deixa nota sobre a dureza da vida em tempos duros, muito duros, de guerra colonial).

Votei uma vez num militar, Ramalho Eanes, por exclusão de partes. A alternativa era ter no palácio de Belém um antigo comandante do campo de concentração de S. Nicolau, outro militar, portanto, e com curriculo político pouco recomendável.
O homem presidiu como vivem os portugueses: normalmente, que é uma maneira moderna de dizer 'sem distinção'. No segundo mandato deu-lhe para apadrinhar uma 'coisa' chamada PRD, um quisto político que inchou o suficiente para afastar o PS da área da governação e depois desapareceu de cena.

Sei, agora, que o general Ramalho Eanes abdicou de retroactivos de pensão no valor de um milhão e trezentos mil euros. Em tempos de grandes farras à mesa do orçamento, aí está uma atitude pouco comum e digna de louvor.

Louve-se, pois, o homem e ponha-se-lhe mais uma estrela nos galões de general.

PM

ACTIVOS EXTRAVAGANTES

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O Joaquim José Oliveira Reis é o presidente, o Luís Filipe Salgado Zenha Morais é vogal, o Jorge Manuel Quintela Brito Jacob é vogal, o Pedro Gonçalo Brito Aleixo Bogas é vogal, o Miguel Teixeira Ferreira Roquette é vogal.
Falamos de dirigentes de claques desportivas do Benfica, Sporting ou Porto que destroem tudo por onde passam em dias de vitória, derrota ou empate das suas equipas? Não.
Falamos de líderes de gangues de bairros problemáticos que, insatisfeitos com o montante do Rendimento Social de Inserção, fazem incursões punitivas aos condomínios dos emergentes? Não.
Falamos dos corpos sociais de uma associação de grafitteiros que, com erva ou sem erva, com coca ou sem coca, vão conspurcando as cidades, vilas e aldeias? Não.
Falamos, simplesmente, do Conselho de Gerência do Metro-Lisboa que considerou que os painéis das estações do 'Metro' criados por Maria Keil e, a seu tempo, oferecidos à empresa constituíam um 'activo extravagante' que no balanço da empresa valia 'ZERO' e ordenou a sua destruição sem uma palavra, sequer, à autora.
Esta gente vulgar que se considera elite pelo simples facto de ter propensão para a contabilidade (quantas vezes criativa, como ultimamente tem sido público e notório, em Portugal e no estrangeiro) tem, certamente, garantido o reino dos céus, como qualquer pobre de espírito que se preze.

Amém.

PM