CONTRA VENTOS E MARÉS
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MARIA EUGÉNIA VARELA GOMES
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(Entrevista a Maria Manuela Cruzeiro)
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CAMPO DAS LETRAS
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«Pouco passava das nove da manhã, quando a rádio transmitiu a notícia: naquela noite dera-se uma tentativa de assalto ao quartel de Beja, nela morrera o sub-secretário do Exército, e o chefe da intentona, Capitão Varela Gomes, encontrava-se internado e mal, no hospital de Beja. Eu já sabia, mas, mesmo assim, foi como se o mundo se desmoronasse sobre a minha cabeça. Queria partir imediatamente para Beja, mas ainda tinha algo a fazer antes: tentar que o movimento seguisse para a frente, mesmo sem o João, gesto desesperado e inútil. Fui encontrar-me com o Robin de Andrade, no jardim perto da casa dele. Estava dentro do assunto, ele que pusesse a máquina militar em movimento. Vã tentativa. Acompanhou-me de regresso a casa da Irene, onde também apareceu o meu irmão Fernando, o fiel amigo de sempre, a quem mais uma vez entreguei os meus filhos. O meu pai e o meu irmão Luís, que deveria embarcar dentro de dias mobilizado para África, vieram buscar-me no carro deste.
E assim, com a morte na alma, parti para Beja.
(...)
Quando avistei o João na maca, partiu-se alguma coisa dentro de mim: parecia ter perdido vinte quilos, pálido a mais não poder ser, pouco acordo dava de si. Percebi que estava mal, mesmo muito mal. Mas ainda lhe falei e lhe prometi que, mesmo não podendo estar a seu lado, estaria lá fora e nunca o abandonaria: «Meu soldadinho, agora é preciso ânimo e lutar pela vida. Eu conto contigo!», ainda lhe disse, mas, nesse momento, já tinha dois pides agarrados ao meu braço, a puxarem por mim, dizendo que tinham ordens de Lisboa, proibindo a minha presença ali. E lá fui arrastada para fora do hospital.».
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