sexta-feira, 26 de setembro de 2008

HISTÓRIAS DE AMOR

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Saiu agora a segunda edição de 'Histórias de Amor', de José Cardoso Pires, Edições Nelson de Matos. A primeira edição saiu em Julho de 1952 e, um mês depois, foi retirada do mercado por iniciativa da Censura salazarista.

A presente edição assinala, com recurso a sobreposição de uma rede de cinzento, as partes do texto que levaram os coronéis da Censura a proibir o livro e presta-nos, assim, dois serviços: põe no mercado e ao nosso alcance um livro que poucos portugueses conheciam e revela-nos a imbecilidade de um regime sobre o qual insistentemente se deita lexívia para fins de branqueamento (estamos todos lembrados de como o serviço público de televisão levou à 'eleição' de Salazar como português mais importante da história de Portugal...).

Sobre a qualidade da prosa de Cardoso Pires, está tudo dito e por gente muito qualificada, pelo que, aqui, não se adianta nada. Sobre a estupidez da Censura salazarenta, muito está por dizer, pelo que aqui deixo duas das muitas frases que levaram à proibição do livro e apenas como exemplos demonstrativos:

'Estava quase ajoelhada sobre o rapaz, a apontar as marcas que o baton deixara no peito e no travesseiro';

'Com a coberta enrodilhada aos pés, o jovem fitava-a. Estava nu e fitava-a'.

E foi assim durante mais vinte e dois anos, com os coronéis da Censura a defenderem a Pátria de todas as ideias subversivas. Há quem tenha saudades. Eu tenho vergonha.

PM