segunda-feira, 29 de setembro de 2008

DO BLOGUE MEDITAÇÃO NA PASTELARIA

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O charme discreto do Forte de Peniche (que eu não sabia que tinha)
Para mim, Peniche foi o neo-realismo avant la lettre. Eu odiava ir a Peniche. A camioneta era ronceira, o caminho longo, às curvas, o vómito infalível. Dormíamos num quarto alugado pela minha mãe a uma mulher de luto, que também servia refeições.
Lembro-me do barulho do mar e dos lençóis pejados de humidade à noite.
No Forte propriamente dito havia uma sala com um vidro comprido, depois um corredor e outro vidro e depois o meu pai. Ele às vezes não aparecia porque fazia greve às visitas.
Durante estes anos, nunca falou muito da sua estadia lá. Uma vez contou-me que os presos do PC tinham um rádio mas que não o emprestavam assim de qualquer maneira. Os "outros" só podiam ouvir as emissoras previamente aprovadas pelo partido.
Eu própria, lembro-me de pouca coisa. Mas sei que odiava ir a Peniche. [Pelo contrário, ir visitar o meu pai ao Hospital de Caxias era uma festa. Comíamos juntos à mesa e havia um quadro preto com giz onde eu podia desenhar. Chegávamos lá por um caminho de chorões e fazia sol.]
Agora querem fazer de Peniche uma Pousada. A Câmara não se opõe:
«A atractividade daquela fortaleza é por força desse passado e isso só enriquece esse espaço e será nesse espírito que a construção da pousada deve ser feita.»
Ó SUA BESTA, IMPORTA-SE DE REPETIR?!!!