quinta-feira, 17 de novembro de 2022

QUEM BOA CAMINHA FAZ NELA SE DEITARÁ

"Miguel Alves era arguido em dois processos-crime quando António Costa o convidou para o Governo. Não estamos a falar de bagatelas penais: o secretário de Estado não era arguido por difamação, por ter criticado um opositor, ou por violação de correspondência, por ter aberto a conta da luz que viesse em nome da sogra. Era suspeito de crimes cometidos na presidência da Câmara de Caminha, lesando o interesse público, em dois processos diferentes. Entretanto soube-se de mais um – a história mal contada do Centro de Exposições Transfronteiriço.

António Costa sabia disto. Sabia e não quis saber. Podemos sempre alinhar pela narrativa oficial: "à justiça o que é da justiça" e ser arguido nunca foi condição de impedimento. É verdade. Mas esperar por despachos judiciais para decidir a sorte de responsáveis políticos é estimular um conflito muito perigoso entre poder político e poder judicial. Escusam também de culpar o "moralismo populista" de que tanto se queixam os políticos de aparelho. Isto não precisa (aliás, dispensa bem) abordagens morais ou moralistas. Para aferir a idoneidade política de um governante bastam duas questões: a pessoa tem condições para exercer eficazmente o cargo? E está em condições de exercê-lo de uma forma que eleve a reputação da instituição? No caso de Miguel Alves, a resposta era clara à partida: não."

João Paulo Batalha

Sábado