
ADOLFO MARIA - Sim, na tarde em que a minha mulher falou com a Irene Neto, apareceram na minha casa, cerca das dezoito horas, quatro agentes da DISA, armados de metralhadoras que me ordenaram que pegasse nas «minhas coisas» porque iriam levar-me dali. Percebi que iria para a cadeia. Peguei nos artigos de higiene e em lençóis. Meteram-me num jipe, que passou pelo centro da cidade, a caminho da velha Fortaleza do Penedo (a antiga Casa de Reclusão colonial), junto ao porto. Aí fiquei na porta-de-armas até cerca das vinte e uma e trinta. A essa hora chegou o agente Tarcísio que me disse que eu estava ali por culpa minha. Respondi ironicamente: «Culpa minha? Fui eu que vim ter convosco?». Ele retorquiu que eu me recusava a responder sobre aquilo que me interrogavam. Pedi-lhe que desse um exemplo e ele perguntou: «Quem é o Comité Central da Revolta Activa?». Ri-me e respondi-lhe: «O Comité Central nunca existiu, porque a Revolta Activa não era um partido, mas sim uma tendência do MPLA». Tarcísio, bruscamente, fingiu ordenar o que eles já tinham decidido: o meu internamento na prisão.
A prisão era um pequeno forte que, no passado, estivera quase cercado pelo mar e servira de prisão no tempo colonial. Foi ali que, em 4 de Fevereiro de 1961, os nacionalistas angolanos atacaram a guarnição portuguesa para libertar os presos políticos. Dezoito anos depois, eu, combatente pela libertação do meu país, entrava ali. Os guardas eram agora militares ou polícias do MPLA, o meu movimento!...
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