terça-feira, 10 de março de 2009

UM IMENSO ADEUS


«Como não se encontrava no grupo nenhum ministro ligado ao ramo, todos concordaram que a indústria estava mal, o desemprego ultrapassava metade da população activa, era preciso fazer urgentemente qualquer coisa e só de vez em quando o das Finanças ripostava molemente, não é verdade que os impostos sejam pesados, de qualquer modo até poderiam ser vinte vezes mais pesados que dava no mesmo, ninguém os paga, acusação provocando algum gelo na sala, de tão verdadeira, muitos dos que ali estavam declaravam todos os anos prejuízos na actividade ou lucros zero, quase pedindo para o Estado os compensar pagando-lhes o sacrifício de manterem empresas falidas só para não agravarem o desemprego do país. Os verdadeiros lucros, esses, iam repousar sob o manto protector de bancos estrangeiros nos paraísos fiscais. O das Finanças também não podia ser muito claro, lhe bastava alguns suspiros e uma frase ou outra apenas para defender a honra do convento, pois também estava associado a alguns desses relapsos nas mesmas firmas bazantes de impostos, que o salário de ministro era ridiculamente baixo e tinha de ser complementado em negócios, aproveitando a inesxistência de uma lei rigorosa sobre incompatibilidades, situação até permitindo um ministro da Educação ser proprietário de universidade ou colégio por exemplo ou o ministro das Finanças ser dono de banco ou, se quisesse, o próprio ministro da Saúde possuir uma agência funerária.»