segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

UM IMENSO ADEUS



.A PIDE, modo de viver...
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Esta aconteceu com o meu querido amigo, Luís Borges de Castro, homem bom e atencioso. Se todos fossem como ele, tudo andaria bem. Ele era Presidente do então Grémio Nacional dos Editores e Livreiros, onde o Augusto Sá da Costa era Tesoureiro e eu, Secretário. Estávamos numa reunião de rotina quando surge a Pide para prender o Augusto Sá da Costa. Para quem não passou ainda por estes transes posso dizer que não é muito agradável: dois pides num gabinete criam imediatamente uma atmosfera tensa e instala-se nas pessoas um imenso mal-estar. Mas aconteceu que os pides não tinham levado papel azul para escrever o auto de prisão e então um deles mandou o subordinado, de eléctrico, do Largo do Andaluz à António Maria Cardoso, buscar papel. Durante cerca de uma hora continuámos naquela atmosfera de cortar à faca, com uma ou outra interrupção, género, o pide a pedir-me para eu ser testemunha, eu a dizer que nem como testemunha queria participar na prisão do Dr. Sá da Costa, o Augusto Sá da Costa a dizer-me que era uma honra para ele se eu assinasse o auto e coisas assim. O Luís Borges de Castro tentava quebrar aquele gelo e desdramatizar a situação fazendo intervenções comedidas. Depois havia silêncios longos, incómodos.
Todos estávamos cientes desta incomodidade. O Luís, então, para desanuviar, volta-se para o pide e perguntou, palaciano, como se aquilo fosse um modo de vida como outro qualquer:
- Então, têm prendido muita gente?
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