Ventura é capaz de mentir serenamente sem pestanejar, sabe que tudo o que promete seria irrealizável, que as suas causas, levadas ao poder, espalhariam o ódio e o confronto entre os portugueses, que as suas teorias económicas nos levariam à falência em dois tempos. E, sabendo-o, não se importa de seguir assim se daí colher mais atenções e mais votos. É um demagogo profissional, a mais perigosa espécie de político. Ele aposta nos defeitos e não nas qualidades dos portugueses, e por isso é que o essencial da sua mensagem passa e cresce nas redes sociais, onde fazem vencimento aquelas nossas infelizes características de que acima falei. Também não o preocupa nada a coerência do que diz ou do que cala, como o seu eloquente silêncio sobre o escandaloso caso de corrupção no exercício de funções públicas que é o da associação de malfeitores formada por dez GNR e um chefe da PSP, de baixa há 14 meses (os tais subsídios de que ele tanto fala), que, a troco de bom pagamento, emprestavam as suas fardas, a sua autoridade e o seu tempo de serviço a fazer horas extra como guardas de campos de trabalho forçado de imigrantes empregues por agricultores sem vergonha. Como é que o homem que nos inundou com cartazes a defender “um país sem corrupção”, o homem que se juntou a uma manifestação de polícias que queria invadir a Assembleia da República, fortes da tal impunidade que nos mina, agora fica caladinho sobre a vergonha absoluta de Beja?
Miguel Sousa Tavares
Expresso
