Montenegro, Ventura, a rã e o escorpião
Dando a mão a quem o insulta, a quem mente e despreza as regras básicas do consenso democrático, o Governo transformou-se num ente sem alma. Nenhum Governo se afirma por ser esponjoso ou anódino.
Não é preciso uma análise freudiana para se perceber a relação de domínio/submissão a que o Governo se sujeitou no diálogo com o Chega na lei de estrangeiros. A escolha enquadra-se nas velhas práticas democráticas para a conquista e a conservação do poder, que vão desde a deglutição de sapos à desavergonhada quebra da palavra. Entre o antes e o agora, porém, o palco onde se desenrolam estas manobras degradou-se. A democracia parlamentar, que nunca foi um ente imune ao defeito, tornou-se um teatro que começa a recomendar uma bolinha vermelha. Em vez da apologia da higiene, o Governo atirou-se à estrumeira que a extrema-direita gosta de criar. Sabe-se bem quem prospera nesses ambientes.
Manuel Carvalho
Público