A difusão de discursos de ódio, narrativas extremistas, boatos, alegados complôs, serve para normalizar ideias consideradas inaceitáveis até há pouco, e conquistar assim a hegemonia cultural — um dos grandes objetivos da extrema-direita, e o primeiro passo para conquistar a hegemonia política. E também serve para polarizar o debate público. Uma sociedade mais polarizada afetivamente, não apenas ideologicamente, é um terreno fértil para os partidos de extrema-direita e a difusão destas ideias. Serve ainda para marcar a agenda mediática, para que falemos do que eles querem e da forma como querem. Temos de jogar no campo deles e falar dos temas que escolheram.Outra questão-chave para a extrema-direita é manter a iniciativa política, e, ao mesmo tempo, aumentar a desconfiança da cidadania nas instituições. Os níveis de desconfiança ultrapassam, em muitos casos, os 70%, e é impensável que um sistema democrático aguente muito tempo nestas condições.Além de utilizar meios digitais, a estratégia passa também pelos meios tradicionais, os debates nas televisões, os programas de rádio, os podcasts... a extrema-direita tenta viralizar-se com um bombardeamento contínuo de ideias extremistas. E pouco a pouco vai deslocando as linhas vermelhas.
Steven Forti
CNNP