Nem Salazar quereria Ventura
André Ventura já afirmou, com a sua habitual grandiloquência, que Deus lhe confiou a missão de salvar Portugal. Mas a pergunta que permanece é: que Portugal? Para o Chega, a pátria é um conceito oco, uma bandeira agitada em direções nostálgicas, mas que ignora a História que diz defender. O Chega, enquanto partido de extrema-direita alimentado pela herança racista do colonialismo, repete os gestos históricos do Estado Novo — só que agora com uma perversão moderna: a total exclusão do Outro. Ventura invoca Salazar como quem invoca um santo padroeiro, mas o seu nacionalismo é tão raso e medíocre que nem Salazar o reconheceria.
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O que Ventura oferece é uma caricatura. O seu nacionalismo é uma versão barata do salazarismo. Enquanto Salazar se apropriava do mundo, Ventura quer enjaular Portugal numa caixa de preconceitos, isolado de tudo e de todos. E, no fim, o que resta é uma traição à ideia de nação que jura, aos seus eleitores, defender.
Maria Castello Branco (Expresso)