"É confrangedor verificar como o Presidente da AR, Aguiar Branco, se deixou encurralar, transformando num direito a pulsão dos deputados da extrema-direita para debitarem aleivosias. No mesmo dia em que o povo turco foi enxovalhado na AR, a deputada Isabel Moreira denunciou o desastroso currículo em matéria de Direitos Humanos da terceira maior bancada do hemiciclo. Durante os minutos em que usou da palavra, Isabel Moreira teve de aumentar o tom de voz para vencer o seu insultuoso coro. Infelizmente, Aguiar Branco limitou-se a uns escassos e quase inaudíveis apelos ao civismo: “Senhores deputados, senhores deputados…”
Se o nosso Parlamento tivesse, hoje, metade da qualidade dos deputados constituintes de 1976, o que estaria agora no centro do debate público seria a ausência de intervenção vigorosa do presidente da AR na defesa do direito à palavra de uma corajosa deputada, com um excecional contributo para o reconhecimento de direitos e liberdades de minorias (homossexuais, trans, étnicas, entre outras), cuja integridade física e moral é posta em causa pela ascensão desta tribo partidária, com um apetite necrófago pela democracia. O aumento de 38% dos crimes de ódio em Portugal, entre 2022 e 2023, apenas o comprova.
Por isso, não é só a AR que tem um problema. É o próprio regime democrático que está ameaçado pelos seus predadores dentro de portas. A demora em reconhecê-lo apenas confirma a gravidade da sua doença."