sábado, 27 de abril de 2024

Contrarrevolução

"Alguns operacionais das redes bombistas organicamente ligadas ao MDLP, foram julgados posteriormente em processos que condenaram “peixe miúdo”, mas pouparam os mandantes, como concluiu o jornalista Miguel Carvalho na importante investigação que conduziu sobre o assunto.

O MDLP era chefiado pelo general Spínola e da sua direção política (“gabinete político”) fazia parte, entre outros, o atual deputado e dirigente do Chega, Diogo Pacheco de Amorim. Desconheço se Diogo Pacheco de Amorim teve, ou não teve, alguma relação com a rede bombista do MDLP, mas o MDLP, do qual era dirigente político, teve. As atividades bombistas do MDLP continuaram após a institucionalização da democracia em 1976. Mas ao contrário das FP-25, cujos membros foram presos e julgados por atos de terrorismo, os chefes e quadros do MDLP ficaram impunes e nunca tiveram de responder pelo bombismo terrorista da responsabilidade desse movimento. Voltaram ao país sem nunca serem inquiridos, e o seu chefe, o general Spínola, foi mesmo agraciado com o marechalato.

Puderam assim, alguns deles, regressar discretamente à política, refugiados na área do MIRN ou do CDS. Foi o caso de Diogo Pacheco de Amorim, que naturalmente veio desaguar no Chega de que é deputado e alto dirigente. No passado dia 27 de março, com os votos da direita parlamentar, foi eleito vice-presidente da Assembleia da República. Com novas caras e processos novos, a velha contrarrevolução — a que sempre conspirou subversivamente contra a democracia e a Constituição — regressa, pela mão da direita tradicional, à proeminência institucional."


Fernando Rosas

Expresso