sábado, 16 de março de 2024

PEREGRINATIO AD LOCA INFECTA

 

Portugal é um país pequeno, situado no cu da Europa e habitado por dez milhões de indígenas que se dedicam à jardinagem ('um jardim à beira-mar plantado') ou à horticultura, actividade muito incentivada pelo hortelão de Santa Comba, excelsa figura que administrou o condomínio, durante quarenta anos, tinha mau hálito, voz amaricada e cheirava a sangue e a chulé. Acrescentando os que ficaram desempregados depois da descoberta do caminho marítimo para a Índia, ficamos com o retrato completo desta comunidade tantas vezes designada por nobre povo e nação valente.

Pois bem, neste meio bucólico e aprazível onde, por recomendação do Serviço Nacional de Saúde, dou os meus passeios higiénicos entre couves, tomates, pepinos e feijão verde, comecei, há dias, a contar o número de pessoas com quem me cruzo. E quando chego aos 100, penso: já me cruzei com onze porcos, Sim, porque os 1.108.784 votantes que, no passado domingo, caminharam para as urnas com os chispes anteriores levantados também têm direito a frequentar o espaço público.

Guardo, porém, uma esperança (ou aguardo um milagre, tanto faz): a de ver o regresso de Jorge de Sena, numa manhã de nevoeiro, e montado num cavalo branco, para nos ferroar com mais uns impiedosos poemas sobre esta loca infecta ou com umas prosas que nos ajudem a sobreviver n'O Reino da Estupidez. Haja fé.