quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

OS "COZINHADOS" DA SIC

A beleza de beneficiar fascistas

Perguntemos então: como se combatem, em democracia, o fascismo e o racismo? Como se combate alguém que, como o cadastrado nazi Mário Machado, exibe uma carreira de décadas de crimes violentos mas insiste em apresentar-se como uma vítima inocente de “campanhas da extrema-esquerda e dos media”? 

Desde logo, não o tratando, como fez, incrivelmente, a SIC no Jornal da Noite deste domingo, e já tinha feito a TVI em 2019, como um mero emissor de “opiniões polémicas”; desde logo não lhe oferecendo tempo de antena para (como sucedeu na SIC) vomitar o seu discurso de ódio, colocando-lhe como contraponto entrevistas de imigrantes que dizem querer apenas viver em paz. Como se uns fossem “o contraditório” dos outros, como se ambos os discursos se equivalessem, fossem ambos igualmente legítimos e respeitáveis. 

Não: um discurso como o de Mário Machado, mesmo quando não atinge a gravidade do crime, não pode passar sem desconstrução, sem efetivo contraditório; não pode ser irresponsavelmente apresentado como mais uma opinião, ou, quiçá, como “uma curiosidade”. Quem queira, alegando o direito à informação, pôr um microfone à frente da boca deste nazi tem de - lá está - saber informar, apresentando-o pelo que é. Lembrar as suas inúmeras condenações, as vezes em que foram encontradas armas de fogo, sem licença, na sua posse; perguntar por que motivo esconde, ante as câmaras, as tatuagens nazis. E tem de se perguntar se, mesmo fazendo tudo isso, quer ainda assim dar-lhe um palanque - para que efeito? Também o faria com um terrorista islâmico que, numa esquina da cidade, defendesse um califado em Portugal?

Não, em democracia não se lança fogo a cartazes. Não se combate o fascismo com fascismo. Não se matam, nem sequer simbolicamente, fascistas. Mas porra, não os tragam ao colo, pode ser?

Fernanda Câncio  (DN)