quarta-feira, 27 de setembro de 2023

OS COVEIROS DE EÇA

Em carta a Teófilo Braga, escrevia Eça de Queiroz: «A minha ambição seria pintar a sociedade portuguesa, tal qual a fez o Constitucionalismo desde 1830 - e mostrar-lhe, como num espelho, que triste país eles formam, - eles e elas.»

Isto escreveu Eça, em 1878, a propósito da publicação do seu livro "O Primo Bazílio". E, hoje, o que escreveria Eça sobre a polémica instalada a propósito da última morada dos seus ossos? Se vivo, como pintaria Eça a sociedade portuguesa que, em vez de ganhar tempo e sabedoria com a leitura da sua obra, perde tempo e embrutece com a questão "metafísica", digna de coveiros com elevado brio profissional, de saber se os restos mortais de um escritor estão melhor nas berças ou no Panteão? Talvez lhe faltasse paciência para entrar em tal debate, talvez se limitasse a recitar o poema 'Portugal', de Alexandre O'Neill: 

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,

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