domingo, 13 de agosto de 2023

SINAIS

É no verão que a rádio repete as joias que o Fernando Alves vai lapidando ao longo do ano, que nem sempre se cruzam no meu caminho, demasiado apressado, entre estios. É no Verão que consigo parar um bocadinho para ouvir a respiração do Portugal que ele, sempre delicadamente, nos traz, na TSF. Esse País que não está na velocidade das autoestradas ou nos relatórios macroeconómicos. Que não encontro no atavio das leis e, tampouco, nas preocupações políticas, demasiado centradas na batalha do és-por-mim-ou-és-contra-mim. Que não fervilha em projetos milionários, demasiado impercetíveis na ótica do interesse público, folgazões na despesa e fugidios no escrutínio. Também não encontro esse País no jornalismo de cada dia. Pelo menos, com a regularidade que seria desejável. Mea culpa. Não ignoro a minha quota de responsabilidade. Mas, ainda assim, é o jornalismo que vai limpando as armas e disparando uns tiros nessa luta da memória contra o esquecimento e a indiferença. E Fernando Alves é um dos grandes expoentes dessa teimosia profissional, quase heroica, que insiste em peneirar qualquer rasto de humanidade nos confins da Guarda e de Bragança, nas estradas remendadas do Alentejo e do barrocal algarvio. Que não larga o interior à invernia da desertificação. Que não desiste das pessoas e das suas vidas, que nos fala do trabalho, tantas vezes do trabalho brutalmente penoso, das infâncias talhadas na lavoura e noutros labores do campo.

Eduardo Dâmaso

Sábado