segunda-feira, 1 de maio de 2023

BILHETES A 5 CÊNTIMOS

Admito: quinhentos mil euros são quinhentos mil euros. É muita 'massa', e é a espantosa verbazinha que a TAP, com o nosso dinheiro, pagou à senhora Alexandra Reis para deixar a empresa, atravessar a rua e assumir a presidência da NAV. Para ganhar quinhentos mil euros, uma grande parte dos portugueses tem de trabalhar mais de cinquenta anos.

Será esta a perspectiva dos pessimistas que olham para a garrafa e a vêem meio-vazia. Contudo, adoptando um outro ângulo de visão, poderemos concluir, com justificado optimismo, que a garrafa, afinal, está meio-cheia.

Vejamos: num universo de dez milhões de indígenas habituados ao 'paga-e-não-bufas' imposto pelos sucessivos ministros da Fazenda, quinhentos mil euros representam um irrisório esforço financeiro de cinco cêntimos por cabeça. Uma ninharia, pois.

Ora bem, por cinco cêntimos temos assistido, e vamos continuar a assistir, a um dos maiores espectáculos de circo alguma vez exibidos neste recanto de três sílabas, testarudo mas embolado e com vista para o mar (ler, sff, Alexandre O'Neill).

Cinco cêntimos! Por cinco cêntimos nem a um pobre espectáculo da mais miserável trupe de saltimbancos poderíamos assistir; por cinco cêntimos nem um aluno da escola de circo, em prova de mestrado nas ruas do Chiado, nos contempla com um número daqueles em que lhe saem chamas do cu e fumo dos olhos; e, afinal, por cinco cêntimos podemos ver em pista a exibição grandiosa de um elenco de que fazem parte as maiores estrelas das nobres artes de costear, pedronunar, medinar, galambar e etc.

Por cinco cêntimos, o preço de um quarto de carcaça com IVA zero, bem podemos todos gritar, nos intervalos de entusiásticos aplausos: "Morra o pão, viva o circo! Morra a tristeza, viva o governo! Bis, bis, bis!"