quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Chega: quem anda a alimentar a besta

A presença de Miguel Pinto Luz no encerramento da convenção [do Chega/Chunga] é a confirmação do que qualquer pessoa atenta às várias declarações de Luís Montenegro já percebeu há muito tempo: se o PSD precisar do Chega, e é improvável que venha a precisar, haverá acordo sem qualquer hesitação. E quanto mais sinais der disso aos eleitores mais votos perderá para o Chega, à direita, porque dá utilidade a esse voto, e mais precisará dele. Percebendo a centralidade que lhe dão, André Ventura subiu a parada: quer ministros. E a sede de poder da direita será tal que, se for essa a sua exigência, os terá.

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Quanto à presença de Ana Catarina Mendes, em representação do governo, é ainda mais significativa. Claro que o PS, ao contrário dos futuros aliados do Chega, não esteve presente. Mas ao decidir que o governo está presente e ao escolher uma das suas principais ministras e uma das principais dirigentes do partido, e não uma figura de quarta linha, Costa quis valorizar o Chega. E é o que continuará a fazer, passando a ideia que qualquer alternativa tem de passar pelo Chega, para assustar moderados: ou eu, ou o caos. O que Macron tem feito, destruindo todo o sistema partidário francês.

Só há um problema: as coisas estão a chegar a um ponto em que até o PS parece estar a perder votos para a extrema-direita. Costa está a alimentar um monstro que lhe garantirá a sobrevivência a curto prazo, mas põe a democracia em perigo no médio e longo prazo. O problema não são os inimigos da democracia. São os que estão demasiado ocupados consigo mesmos para a defender.

Daniel Oliveira

Expresso