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Quanto à presença de Ana Catarina Mendes, em representação do governo, é ainda mais significativa. Claro que o PS, ao contrário dos futuros aliados do Chega, não esteve presente. Mas ao decidir que o governo está presente e ao escolher uma das suas principais ministras e uma das principais dirigentes do partido, e não uma figura de quarta linha, Costa quis valorizar o Chega. E é o que continuará a fazer, passando a ideia que qualquer alternativa tem de passar pelo Chega, para assustar moderados: ou eu, ou o caos. O que Macron tem feito, destruindo todo o sistema partidário francês.
Só há um problema: as coisas estão a chegar a um ponto em que até o PS parece estar a perder votos para a extrema-direita. Costa está a alimentar um monstro que lhe garantirá a sobrevivência a curto prazo, mas põe a democracia em perigo no médio e longo prazo. O problema não são os inimigos da democracia. São os que estão demasiado ocupados consigo mesmos para a defender.
Daniel Oliveira
Expresso