domingo, 18 de dezembro de 2022

AH, VALENTES!

Assembleia da República aprova condenação do Mundial no Qatar após derrota de Portugal

A Assembleia da República aprovou, esta quinta-feira, a condenação da realização do Mundial no Qatar. Decisão só foi tomada já após a derrota de Portugal frente a Marrocos nos quartos-de-final do campeonato do Mundo.



O presidente Sousa foi ao Mundial do Catar, e os senhores deputados ficaram calados que nem ratos.
O presidente Silva (da AR) foi ao Mundial do Catar, e os senhores deputados ficaram calados que nem ratos.
O primeiro-ministro Costa foi ao Mundial do Catar, e os senhores deputados ficaram calados que nem ratos.
A selecção portuguesa não teve um único gesto de repúdio pelo regime catari nem de respeito pelos milhares de migrantes mortos nas obras dos estádios, como fizeram muitas outras selecções, e os senhores deputados ficaram calados que nem ratos.
Inopinadamente, os marroquinos acabaram com as birras do Cristiano Aveiro, com os sinais exteriores de incompetência do seleccionador nacional e mandaram a malta para casa, para dar banho ao cão. Aqui, os senhores deputados rugiram (em falsete) como leões: "Arre, porra, que é demais!", e aprovaram um projecto de resolução a arrasar a UEFA, a FIFA, o Catar e os excursionistas amantes do futebol.
Os ratos encheram-se de coragem e travestiram-se de leões. Tempo perdido, objectivo gorado. Tivessem os senhores deputados lido a moral da inspirada fábula de Millôr Fernandes e saberiam que "Quem tem coração de rato não adianta ser leão".

Aqui fica a prosa de Millôr Fernandes para ilustração dos nossos valentes deputados:

«Um rato tinha medo de gato. Nisso não era diferente de outros ratos. Pavor, tremor, ânsia, vida incerta. Mas, igual a todos os outros de sua espécie, o nosso rato teve, no entanto, um facto diferente em sua vida - encontrou-se com um mágico. Conversa vai, conversa vem, ele explicou ao mágico a sua sina e o seu pavor. O mágico então transformou-o exactamente naquilo que ele mais temia e achava mais poderoso sobre a terra - um gato. O rato, então, passou a perseguir os outros ratos mas adquiriu imediatamente um medo horrível de cães. E nisso também não era diferente de todos os outros gatos. A única diferença foi que tornou a se encontrar com o mágico. Falou-lhe então do novo medo e foi transformado outra vez na coisa que mais temia: cão. Cão, pôs-se logo a perseguir os gatos. Mas passou a temer animais maiores, como o leão, tigre, onça, boi, cavalo, tudo. Mágico vem e resolve transformá-lo, então, num leão, o mais poderoso dos animais. E o nosso ratinho, guindado assim à letra O da classe animal, passou então a recear quando ouvia passo de caçador. Então o mágico chegou, transformou-o de novo num rato e disse, alto e bom som:
Moral: - Meu filho, quem tem coração de rato não adianta ser leão.»
Millôr Fernandes