A questão da culpa nacional pelos massacres dessa guerra injusta e cruel foi recentemente levantada no nosso debate público, a propósito de afirmações (justas) de António Costa sobre o massacre de Wiriamu, e ainda bem que esse debate se abriu.
Pode existir uma culpa coletiva? Teremos nós todos, portugueses de hoje, alguma coisa que ver com o que em nosso nome foi executado e perpetrado ao longo dos séculos?
Os portugueses de hoje terão que pagar pelos seus antepassados negreiros? Não será mais urgente denunciar as manifestações de racismo, larvares e latentes ou manifestas e patentes na sociedade de hoje, do que fazer-nos a todos responsáveis pelos crimes dos nossos avós mortos?
Mas a guerra colonial, que a nossa geração viveu, levanta, a meu ver, outra ordem de problemas.
Aqueles de entre nós que participaram, com grande risco para todos e graves consequências para muitos, na luta em Portugal contra a guerra colonial são também responsáveis por Wiriamu? Os milhares de portugueses que escolheram a deserção, o exílio, a emigração para fugir à guerra têm parte nessa culpa?
Sejamos lúcidos: se nunca existiu o menor entusiasmo nacional por aquela guerra, a verdade é que ela foi "suportada" (não no sentido inglês de apoio, antes no sentido português de resignação contrariada) pela maioria da população.
O regime político instaurado em 25 de abril de 1974 e institucionalizado pela Constituição de 1976 inscreveu-se claramente contra o Estado Novo de Salazar e Caetano. A guerra colonial terminou então. Mas não deixamos todos (mesmo os que resistiram) de participar numa comunidade nacional, em que muitos calaram e alguns (hoje ressuscitados por uma extrema direita à procura de assuntos) aplaudiram a guerra injusta em que nos tinham envolvido. Não somos todos culpados, por certo, mas todos partilhamos uma responsabilidade histórica nacional."
Luís Castro Mendes (DN)