quarta-feira, 3 de agosto de 2022

"EU AINDA SOU DE PARIS"

"A minha aprendizagem do mundo começou em francês. Os poemas, as canções, os romances, os jornais sem censura, a vida lá fora, os livros marxistas trazidos da Maspéro, onde mesmo roubar livros era considerado um ato revolucionário... E, claro, todos os mitos de Maio de 68, que levaram até um reitor salazarista a gritar na nossa Cidade Universitária aos estudantes em greve: "Lisboa não é Nanterre".

A partir dos anos 80, a dominação intelectual anglo saxónica acompanhou no nosso país uma reconversão cultural, que coincidiu com o fim da Revolução e com a viragem para o centro-direita que lhe foi subsequente. O Independente libertou a direita portuguesa do cheiro de sacristia nacional conservadora que era o seu caldo de cultura, enquanto as leituras francesas passaram a ser vistas com desprezo, como apanágio dos pobres "indígenas" que éramos, nos termos de Vasco Pulido Valente. Os anos 80 eram brilhantes e superficiais, mas inscreviam uma promessa de felicidade no discurso da direita, que contrastava fortemente com o culto da mediocridade e da pobreza da era de Salazar, culto retomado anos mais tarde pelo governo de Passos Coelho. "

Luís Castro Mendes (DN)

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