«Antes de mais, para que não haja confusões deliberadas – hoje a maioria das confusões são deliberadas –, eu acho muito bem que o Movimento Europa e Liberdade (MEL) faça uma convenção com os seus; acho muito bem que convide quem entender; acho muito bem que, se Sérgio Sousa Pinto, Álvaro Beleza e Luís Amado se sentem bem lá, devem ir; acho muito bem que se o MEL quer Ventura lá, o convide; e acho que a clarificação que daqui resulta é positiva para a política portuguesa. O caso de Rui Rio fica para o fim.
A clarificação vale muito e a lista de pessoas vale muito mais. No seu núcleo duro está a tribo. Este núcleo vem da comunicação social, em particular do principal think tank da direita radical em Portugal, o grupo de comunicação social do Observador, online, rádio e revistas, que pelos seus financiamentos é claramente um braço armado de um lóbi empresarial, e assenta numa lógica política sectária. O jornal tem qualidade e, de novo, ainda bem que existe. Mas convém não ter a ilusão de que se trata de um projecto de comunicação social – é um projecto político da ala mais radical da direita portuguesa e o que verdadeiramente nele conta é a opinião e a mobilização da tribo pelos comentários. E é essa opinião que está em peso no MEL, Rui Ramos, José Manuel Fernandes, Helena Matos, Jaime Nogueira Pinto, Alexandre Homem Cristo, João Marques de Almeida, Vítor Cunha, etc.
Esta lista comunica com blogues, alguns actualmente muito próximos do Chega e da extrema-direita, que não é a mesma coisa que a direita radical. E tem uma presença muito activa nas redes sociais, a que se acrescenta a opinião no PÚBLICO (Fátima Bonifácio, João Miguel Tavares) e no Jornal de Negócios (Camilo Lourenço, Joaquim Aguiar), na imprensa económica em geral, e nas televisões em sinal aberto, com Portas e Júdice. Só a lista de nomes e posições revela como a vitimização da direita sobre o acesso aos órgãos de comunicação social é apenas isso, vitimização, para se apresentarem como perseguidos quando têm vindo a aumentar significativamente a sua presença nos jornais, rádios e televisões. O problema não está tanto na opinião, está na crescente influência na agenda editorial. De novo, para não haver mais daquelas confusões intencionais, acho muito bem na opinião, até porque alguns deles são gente com qualidade. Agora não me venham com histórias da carochinha sobre vitimizações.
A Maçonaria está também presente, a do PSD e a outra, da direita radical. Depois há gente do PSD, e da Aliança, na sua esmagadora maioria opositores de Rui Rio, vindos do “passismo”, reciclado em nostalgia da troika, como Morgado, Pinto Luz, Paulo Sande, Nogueira Leite, etc. Do mesmo modo, a esmagadora maioria dos presentes que não são do PSD andaram nessas águas durante o governo Passos-Portas-troika e são agressivos opositores de Rio, que tratam como uma espécie de traidor serventuário de António Costa e do PS. Para eles, o que é preciso é correr o mais depressa possível com Rio para “reconfigurar a direita” com o único partido que tem votos, o PSD."
José Pacheco Pereira
Público