quinta-feira, 15 de abril de 2021

O PSD NUM RIO DE LAMA

 


 "Iluminada pela sabedoria da sua “direita clássica”, Fátima Bonifácio escreveu há pouco um manifesto a apresentar a sua esperança de que, como “a direita não se conseguiu impor com boas maneiras e falinhas mansas”, uma vitória do Chega seja o início de “uma barrela de alto a baixo” no país. A suzanificação do PSD é uma via para essa “barrela”, mais do que as diatribes de Ventura e, de facto, é assim que poderão convergir os processos de reidentificação da direita: uma milícia de redes sociais a criar a onda, uma extrema-direita a bater à porta para uma coligação e a transformação do PSD à sua imagem e semelhança.

Suzana Garcia será provavelmente derrotada na sua excursão à Amadora, mas a suzanificação veio para ficar e Rui Rio, no temor de Passos Coelho, fará o mesmo que esperaria que o seu adversário interno fizesse. Estarão por isso de acordo, há uma direita que não vê outro caminho, como têm vindo a anunciar alguns dos seus ideólogos, desde a malta do Observador até outros mais distintos, entre a resignação e o entusiasmo. É já disso testemunho a homenagem comovida a um genocida da guerra colonial ou a alegria esfuziante com que se associaram à campanha do “fundo de verdade” sobre “os comunistas comerem crianças”, como o à vontade com que um dos seus arautos se permite acusar quem cometa o pecado de dele discordar de padecer de “síndrome de loucura”. Esta trumpização do espaço público e a a suzanificação do PSD são agora as vozes da direita em Portugal."

Francisco Louçã

Expresso