quinta-feira, 21 de maio de 2020

O CÓNEGO MELO E O SEMINARISTA VENTURA


Há quem diga que o sr. André Ventura é comentador desportivo. E talvez o sr. Nuno Melo seja uma espécie de apanha-bolas do PPE no Parlamento Europeu. Tudo os une e tudo os divide, mesmo quando a política não passa de um jogo de claques de futebol. O sr. Ventura vê perigosos ciganos em cada esquina. O sr. Melo vislumbra uma conspiração marxista na telescola. Cada um escolhe a história da carochinha que prefere. A do sr. Ventura é conhecida: é uma transpiração de ódio. A do sr. Melo tinha-se manifestado só em dias de míldio intelectual, quando fez uma vénia ao partido espanhol Vox. Claro que há uma enorme diferença ideológica entre o sr. Nuno Melo e o sr. André Ventura. O sr. Melo degusta escargots num café selecto de Estrasburgo. O sr. Ventura come caracóis na tasca da esquina. Daí estarem em agremiações diferentes.

chegada do sr. Chicão não resolveu o problema. O CDS é hoje uma versão deprimente da canção A Moda do Pisca-Pisca. E, nela, o sr. Melo parece agora, para pena de todos, o groupie de um grupo onde o sr. Ventura é o vocalista. É certo que os partidos políticos são hoje simples máquinas eleitorais sem músculo ideológico. Jogam sobretudo com as emoções, que são mais úteis para ganhar eleições, do que com as ideias. Mas momentos como este necessitam de respostas complexas, e não de caldos de galinha. O sr. Melo nunca será um ideólogo de uma nova direita. Nem um líder para ela. Mas socorre-se da mesma falta de elegância: busca o maniqueísmo e o enfrentamento fácil, como a extrema-direita, para se mostrar. Poderia ter aproveitado para enriquecer a política. Não foi o caso.

Fernando Sobral 
Público