"Primeira coisa interessante: apesar de Abel Matos Santos ter dito que Aristides de Sousa Mendes era “agiota dos judeus”, ter dado vivas a Salazar e ter garantido que a PIDE era uma das melhores polícias do mundo, só pediu desculpas pela parte de Aristides. E só se quis encontrar com a comunidade judaica que, espero, o tenha mandado dar uma curva por ter insultado um dos mais corajosos portugueses do século XX. Não pediu desculpas a quem foi torturado pela PIDE e às famílias dos que foram mortos. Que, também espero, teriam respondido que as desculpas não eram aceites. Conclusão: há uma direita que, do ódio explícito, só desistiu, e a custo, do antissemitismo. O resto continua lá.
Segunda coisa interessante: os velhos desabafos do salazarista antissemita eram largamente conhecidos no CDS. Imagino que tenham sido guardados para uso posterior para, com o sexólogo já como vice-presidente, embaraçar o novo líder. Não havia como Francisco Rodrigues dos Santos não conhecer estas frases ou pelo menos as convicções de Abel Matos Santos. Mesmo assim, convidou-o para vogal da Comissão Executiva. Conclusão: o novo líder do CDS não se importa de ter um salazarista antissemita (e já agora homofóbico) como vice desde que as pessoas não saibam o que ele é."
Daniel Oliveira
Expresso