sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O NEGÓCIO DA LÍNGUA

 "O que moveu a revisão da língua não foi, como alguns nos quiseram vender, o seu dinamismo próprio a necessitar de fixação e unificação, nem sequer, como outros então candidamente acreditaram, facilitar a sua aprendizagem. O que moveu o AO foi o negócio. Com o número de falantes brasileiros a ultrapassar em larga escala o número de falantes portugueses, a que acrescia o mercado africano de língua portuguesa, houve quem, em Portugal, encarasse a propalada “unificação” (um logro, mas isso são outros quinhentos...) como oportunidade para um negócio da China que se não incluía a China viria a incluir a Guiné Equatorial. A coisa viu-se furada, sobretudo quando Angola resolveu tomar as dores do português europeu, a que se somariam as línguas nacionais africanas, paulatinamente a ocupar o seu espaço, mais as taxas aduaneiras que não descem. Resultado: arrombámos a casa para nos descobrirmos “orgulhosamente sós”. Entretanto, nada torna mais claras as reais motivações do AO — que de linguísticas têm tanto como esta cronista de loura — do que as declarações de 2011 do agora secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media: “Devíamos escrever todos brasileiro. Eu, se for escritor ou realizador de cinema, prefiro pensar que vou ter um público potencial de duzentos e tal milhões de pessoas do que ter a escala de dez milhões.” Tivesse Eça escrito as aventuras do Teodoro em mandarim é que era!"

Ana Cristina Leonardo
E/ Expresso