domingo, 24 de fevereiro de 2019

A ARTE DE ENCHER PIPAS


O conselho de administração reunia-se e contra todas as práticas, contra todas as obrigações e recomendações, violando a lei e as normas em vigor nos bancos aprovava créditos a que nunca devia ter dado o sim. A liderar essas reuniões estava Tomás Correia, então presidente da Caixa Económica Montepio Geral e hoje presidente da Associação Mutualista. Mas não estava sozinho. Ao seu lado estavam os então administradores Álvaro Dâmaso, Eduardo Farinha, Almeida Serra e Paulo Magalhães. Juntos e de forma sistemática, entre 2009 e 2014, autorizaram operações para esconder créditos em incumprimento e assim melhorar as contas do banco que geriam ao não constituírem as provisões obrigatórias por lei.
Ao seu dispor tinham uma vasta cartilha de operações. Aprovavam novos empréstimos, muitas vezes com carência de capital e juros, sem passar pela análise de risco para pagarem os créditos que já estavam vencidos. Liquidavam prestações que não tinham sido pagas através de descobertos bancários ou através de outras formas de financiamento aos devedores, para não registarem as perdas. E, a cereja em cima do bolo, concediam novos créditos a quem tinha deixado de pagar com carência de capital e juros com efeitos retroativos para limpar créditos já vencidos. Operações com as quais escondiam para debaixo do tapete o lixo, não prejudicando assim os resultados do banco.
Esta pequena descrição revela apenas como oito administradores da Caixa Económica Montepio Geral acabaram condenados pelo Banco de Portugal pela prática sistemática e com dolo de várias ilicitudes. Uma investigação que se iniciou em 2014 e que agora termina com a condenação de todos os acusados no processo.
Expresso