terça-feira, 7 de agosto de 2018

Robles só podia renunciar. Em nome de quem vota no Bloco, mas não só

 "Porque é que a renúncia de Robles era a única decisão possível, do ponto de vista de quem já votou no Bloco, e da esquerda em geral? Porque há uma fortíssima, insanável contradição entre o processo imobiliário de Robles e a campanha que ele fez para a Câmara de Lisboa. Essa contradição é da ordem da ética, não da ilegalidade. De tudo o que foi publicamente escrutinado, parece claro que Robles não cometeu qualquer ilegalidade. E justamente por ser uma fortíssima, insanável contradição ética é que a esquerda, e sobretudo quem vota no Bloco, só podia esperar, desejar e aplaudir a renúncia. Em suma, porque isso é parte essencial do que a distingue, ou deve distinguir, da politiquice barata, do chico-espertismo, para não falar de ilegalidade contumaz.
Mas percebe-se que os oportunistas à direita pipoquem com a menor oportunidade de apontar o dedo financeiro à esquerda. É que, de facto, não têm muitas oportunidades de o fazer. Os crimes financeiros de políticos são quase um exclusivo de PS, PSD e CDS, a tal ponto que já dificilmente ocorreria uma demissão por razões éticas, dentro de algum destes partidos. Se um partido está a braços com casos de corrupção activa e passiva, branqueamento de capitais, fraude fiscal, abuso de poder, peculato de uso, burla, extorsão ou falsificação de documentos, como tem acontecido com PS ou PSD ou CDS, e se os prevaricadores continuam a mentir até depois da cadeia, como imaginar que se demitam quando nem sequer cometem ilegalidades?
O PSD “exigir” a demissão de Robles é patético. Mas o Bloco, e outra esquerda, não podem deixar de fazer o que há a fazer por o PSD achar que retira dividendos disso. Primeiro, não retira. E segundo, era o que faltava. A esquerda não pode ficar refém da direita a esse ponto. O patético do PSD fica com o PSD."

Alexandra Lucas Coelho
Sapo

LER MAIS; https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/robles-so-podia-renunciar-em-nome-de-quem-vota-no-bloco-mas-nao-so