terça-feira, 10 de julho de 2018

GUERRA COLONIAL - O CRIME CONTINUADO





COLONIALISMO E INDEPENDÊNCIAS: AS MEMÓRIAS 
QUE NÃO SE PODEM PERDER

Mais de 40 anos passados, o que sabemos sobre a guerra colonial e as lutas de libertação? O que se perdeu entre o silenciamento de amplas vertentes do conflito? Nos diferentes lugares, que memórias persistem da guerra que mudou a face de Portugal e que foi crucial para as independências de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe?
A partir das datas marcantes da fase final do colonialismo, dezenas de autores de diferentes origens e áreas do conhecimento questionam a história e o legado desses tempos de mudança. Nestas voltas de um passado feito de momentos celebrados e de segredos incómodos, desenha-se um outro modo de contar a memória de uma guerra com muitos lados.

TEXTOS DE: Aida Freudenthal, Albert Farré, Aniceto Afonso, André Caiado, Amélia Neves de Souto, Ângela Campos, Ângela Benoliel Coutinho, Bruno Sena Martins, Carlos de Matos Gomes, Celeste Fortes, Cláudia Castelo, Cláudio Alves Furtado, Diana Andringa, Elsa Peralta, Fidel Reis, Gerhard Seibert, Helena Wakim Moreno, Inês Nascimento Rodrigues, Isabel Maria Cortesão Casimiro, José Neves, José Pedro Monteiro, Julião Soares Sousa, Justin Pearce, Leonor Pires Martins, Leopoldo Amado, Manuel Loff, Marcelo Bittencourt, Margarida Calafate Ribeiro, Maria‑Benedita Basto, Maria da Conceição Neto, Maria José Lobo Antunes, Maria Paula Meneses, Michel Cahen, Miguel Bandeira Jerónimo, Miguel Cardina, Miguel de Barros, Mustafah Dhada, Nélida Brito, Odete Semedo, Paulo Lara, Raquel Ribeiro, Redy Wilson Lima, Rita Rainho, Rui Bebiano, Sílvia Roque, Sheila Khan, Susana Martins, Teresa Cruz e Silva, Tiago Matos Silva, Vasco Martins e Verónica Ferreira 






Falam de um “longo apagamento da guerra colonial no espaço público”. Por que é que aconteceu?
Bruno Sena Martins — Isto no contexto português. Se nos países que nasceram das independências a guerra é vista como um momento fundador da nação, em Portugal tem um lugar de difícil inscrição. Representa um momento de violência colonial, não apenas daqueles 13 anos de guerra, mas de toda a história portuguesa imperial, marcada pela violência da escravatura, da opressão colonial. Uma identidade portuguesa que celebra os descobrimentos, uma ideia de um colonialismo especial, muito luso-tropicalista, de convívio com os povos, tem dificuldade em inscrever esta narrativa. Uma outra dimensão do silenciamento sobre a guerra colonial é que o regime que resulta do 25 de Abril teve a participação activa dos militares que participaram na guerra colonial. Qualquer guerra tem momentos de violência, traumáticos, de massacres de populações, que criam uma espécie de tabu.


Miguel Cardina — Faz com que a figura do militar seja paradoxal. É o herói da democracia e é quem faz a guerra. O facto de o 25 de Abril ter sido feito por militares e o próprio processo histórico que inaugura significar o desfecho da guerra, transforma-o num evento do passado sobre o qual não seria muito interessante falar. Há também na sociedade em geral uma falta de vontade em ouvir aquelas pessoas. Eu fazia no outro dia uma entrevista a um ex-combatente e ele dizia que só começou a falar da guerra no final dos anos 90. Por que é que acontecia? “Eu não falava porque acho que ninguém me queria ouvir sobre o assunto.”
Público