quarta-feira, 20 de junho de 2018

PEQUENAS VAIDADES

. "A minha intuição é que tiveste sempre a alma de escritor adormecida sob o espírito do leitor arguto e sensível que és.
A minha percepção de leitora é a de que o teu livro transita entre o romance epistolar e a crônica livre e assim se afasta do apenas ficcional. Essa escolha, pensada ou não por ti, deixa transparecer com maior profundidade e leveza as mazelas da desapiedada Guerra Colonial. A linguagem escorreita e polida permite que se vá percebendo a impotência que acometia os jovens “heróis”, mesmo que cheios de revoltas e nojo. Nessas cartas, escritas sob o peso da imprevisibilidade da morte, nota-se que a destruição de vidas e de sonhos é uma cartografia incompreensiva para quem foi à guerra e para quem ficou a espera dos que de lá viessem, invariavelmente, mutilados no corpo e na alma, “apanhados pelo clima”, ou lacrados em caixões de chumbo, fatalidades(?) que resultavam do “crime continuado que foi a Guerra Colonial”. Com a escrita de “A Inscrição dos Dias: Cartas para Q.” tenho a sensação de que exorcizaste parte da complexa rede de emoções por ti vividas. É imperativo que alargues a trilha que ora começaste.
São essas as minhas considerações de primeira leitura a um fôlego só, amigo." 

Maria da Conceição Oliveira Guimarães


(Professor Substituto na Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Pesquisadora da CAPES)