domingo, 16 de abril de 2017

SUGESTÃO


Américo Thomaz, o último Presidente da República do Estado Novo, é frequentemente recordado como uma figura patética: o caricato «corta- -fitas» do regime fundado por Salazar com o apoio dos militares que cometia gafes e falava com exasperante lentidão. Bastará, porém, acompanhar a biografia que lhe traça Orlando Raimundo para perceber que essa é uma perspectiva manifestamente redutora e que o seu papel como facilitador das manobras da ditadura ao longo de quase quarenta anos de vida política teve consequências bastante mais nefastas do que as anedotas que sobre ele se contam fariam adivinhar. Entre muitos episódios em que participou e que condicionaram a história portuguesa do século XX, a sua intervenção foi determinante quando traiu o general Botelho Moniz, fazendo abortar o golpe que iria derrubar Salazar, e no momento em que obrigou Marcello Caetano a assumir o compromisso solene de não abrir mão das Colónias. Como nos diz o autor do presente volume, «na procissão dos devotos do salazarismo [Thomaz] esteve sempre na linha da frente, a segurar o andor». Deste modo, justifica-se amplamente dar a conhecer essa outra face de Américo Thomaz e revelar dados menos conhecidos deste Presidente da República que – pasme-se – era um adepto da monarquia. Até para evitar que a tragédia possa dar lugar à farsa.