terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

BASTA LER O OBSERVADOR, O EXPRESSO, O JORNAL DAS MERCEARIAS CONTINENTE, ETC.

Se sairmos deste submundo para as elites políticas à direita encontramos um mundo muito semelhante àquele que Trump encontrou no Partido Republicano, uma mistura de fascínio, repulsa, acima de tudo, muita ambiguidade. A parte de "cima" da direita detesta Trump, acha-o vulgar e teme o seu aspecto não conservador, o seu lado de revolucionário. Teme os efeitos do seu estilo, mas gosta do facto de os seus adversários serem idênticos aos seus. Trump bate no "sistema" e no "pântano", a direita metida nesse sistema e mergulhada no "pântano" vê-o como um combatente contra aquilo que agora chama de "oligarquia", os jornalistas, os artistas, os sindicatos, o "povo" da esquerda, que tem a ousadia de se manifestar, as pessoas diferentes, os subversivos.

Trump dá-lhes uma sensação de vingança. O que eles não podem fazer, as coisas que não podem dizer, e aquelas que desejariam fazer, Trump faz por eles. A "invasão" dos estrangeiros, a dissolução dos costumes, o "assassinato" legal do aborto, a homossexualidade, a igualdade de direitos das mulheres, a lei e a ordem, tudo aquilo que mais civilizadamente o articulismo de direita critica, faz Trump à bruta. E eles não gostam de Trump, mas apreciam que bata naqueles que são também os seus alvos. A seu tempo acabarão por defender Trump, o mais forte deles todos. 

Este "trumpismo" envergonhado também já cá está. Faça-se um elenco dos temas do articulismo de direita e percebe-se que não há nenhum sobressalto com Trump. Bem pelo contrário, há um contentamento que não ousa expressar-se, "bata-lhes que eles merecem". Há distância, mas não há recusa frontal, e quando se analisam os temas da revolução Trump, que deveriam deixar qualquer democrata ou sequer gente moderada, católica, com princípios, a subir pelas paredes acima pelo uso sistemático da mentira e da intimidação, nada. Nada. 

J. Pacheco Pereira
Sábado