terça-feira, 6 de dezembro de 2016

ELE HÁ DIAS DO DIABO

"É difícil recordar um momento em que um político português tenha sido incinerado assim, sem qualquer misericórdia. Passos Coelho foi removido da política nacional pelo que fez e pelo que ainda julga que pode fazer. As palavras de Marcelo (este feriado nunca deveria ter sido eliminado) e de Costa (houve quem menosprezasse esta data histórica) desnudam a falta de sensibilidade de um político que governou o país como se fosse um jogo de computador e que julga que poderá ressuscitar como salvador da pátria. Marcelo e Costa desfizeram Passos Coelho por uma razão que une os portugueses: o simbolismo do 1.º de Dezembro. Se o 5 de Outubro enche o peito dos republicanos e ensombra os sonhos dos monárquicos, sobre o dia em que se restaurou a independência há uma unanimidade total. Onde só não cabe Passos Coelho. Como se ele fosse insensível à independência de Portugal. E tenha colocado o 1.º de Dezembro numa casa de penhores só para agradar a Bruxelas e Berlim e aos que julgavam que menos feriados eram sinónimo de mais produtividade.

Não há memória de uma exéquia política assim, feita a frio, sem contemplações. Depois disto, Passos Coelho pode dizer tudo, mas já ninguém o levará a sério. Ficou na História como alguém que desprezou um símbolo maior de união dos portugueses e algo que, como a bandeira ou o hino, lhes lembra que são independentes. Apesar da dívida. Apesar do défice. Apesar da União Europeia. O 1.º de Dezembro é a alma dos portugueses. Eliminar essa data é sonhar erradamente que somos europeus e não portugueses, só subordinados devedores e não cidadãos. Passos fica agora só. Já nem terá o trunfo Pedro Santana Lopes. E terá de engolir Paulo Macedo na CGD. Há políticos que chegam assim ao fim. De forma muito triste."
 Fernando Sobral
Jornal de Negócios