quinta-feira, 27 de outubro de 2016

PEQUENAS VAIDADES

João Paulo Guerra e Pedro Martins

 

A segunda morte da Guerra Colonial

(...)

A INSCRIÇÃO DOS DIAS. CARTAS PARA Q.
Com prefácio esclarecedor de Francisco Belard, este romance constitui, em forma epistolar, o testemunho ficcional de Pedro Martins baseado na sua experiência militar na Guiné-Bissau. Neste livro, cruzamento de memorialismo de guerra e ativa denúncia social, o narrador na primeira pessoa permite tanto uma descrição realista, quase um documentário de carácter social (tabancas, bolanhas, picadas, armas de fogo, camaratas, refeições, situações geográficas...) como a sua subversão através de um abundante uso da ironia, transformando, por vezes, esta paródia (utilização de frases oficiais do Governo português, desmistificadas pelo contexto).
Se o livro de João Paulo Guerra é, de facto, um romance sobre a guerra e o pós-guerra, o de Pedro Martins é um testemunho horrendo sobre a guerra, dois anos a viver no "inferno" de uma Guiné desprovida de tudo o que um jovem europeu desejaria. Porém, a vertente literária consistiu na transformação de um testemunho realista sobre a guerra num texto que, por via da ironia/paródia, nos faz sorrir, ou seja, a transformação do inferno num purgatório aceitável.

Miguel Real
JL