O FMI cometeu erros grosseiros na política que, como membro da troika, impôs a Portugal e à Grécia? Sim, são os próprios que o admitem. O que vai acontecer ao FMI, aos técnicos que cometeram esses erros? Nada. Jean-Claude Juncker promoveu a fuga ao fisco de dezenas de grandes empresas? Sim. O que lhe vai acontecer? Nada. A Goldman Sachs cometeu um rol sem fim de actos ilegais? Sim. O que lhe vai acontecer? Nada. A Volkswagen e outras empresas automóveis cometeram fraudes e atentados ao ambiente? Sim. O que lhe vai acontecer? Nada. Os bancos europeus criam um cartel para manipular as cotações do Libor? Sim. O que lhes acontece? Nada. Nalguns casos há leves sanções, para evitar revoltas de outras empresas cumpridoras, mas são sempre muito inferiores aos benefícios colhidos. E certamente que não há dezenas de gestores enfiados na cadeia como aconteceria se tivessem roubado uma mercearia. Porquê? Porque há uma lei para os cidadãos comuns e outra para os poderosos. O primado da lei é apenas uma anedota com que se paralisam os timoratos.
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A imoralidade da vida pública alimenta-se destas inimputabilidades, destes estatutos de excepção concedidos a quem rouba muito desde que defenda o ideário neoliberal (com as desculpas pelo pleonasmo). A grande ameaça para a democracia não é o terrorismo. A grande ameaça para a democracia é a inimputabilidade do FMI, de Juncker, da Goldman Sachs e dos outros banksters, de Durão Barroso, da Comissão Europeia, do Eurogrupo. É isso que destrói a sua credibilidade.
José Vítor Malheiros
Público