quarta-feira, 25 de maio de 2016

DE OUTROS

Da vergonha alheia que se sente ao ver telejornais


A verdade é que as televisões em geral - e a RTP devia ser, mas não é, excepção - primam pelo sectarismo da sua cobertura. Ver um telejornal é sempre um exercício de sofrimento e de vergonha alheia. Sectarismo nos temas escolhidos, nos testemunhos que recolhem, nas opiniões que valorizam, nos comentários que solicitam. Um sectarismo que se caracteriza pela defesa geralmente subtil, às vezes nem isso, das posições mais reaccionárias e mais próximas dos poderes fácticos mais poderosos. O segmento de JRS sobre a dívida não é mais nem menos sectário do que todos os outros feitos pelo próprio e, por isso, não merece maior escândalo. O que merece indignação é que a RTP continue a não conseguir praticar um jornalismo respeitável e independente.
Que a SIC tenha como editor o alegre propagandista José Gomes Ferreira tem de se aceitar como mais um castigo dos mercados. Que a RTP pública imite o que de pior se faz no jornalismo televisivo e se sinta obrigada a convidar para todos os seus painéis um direitista de serviço do Observador (nem sequer identificado como tal), lamenta-se.
Há bom jornalismo na RTP, mas ele aparece sempre nos interstícios de um discurso que não foge da narrativa hegemónica da direita neoliberal, dos terrores dos “mercados” aos ralhetes de Bruxelas, da respeitabilidade da banca aos riscos em que uma política de esquerda nos coloca.
José Rodrigues dos Santos diz, em resposta às supostas pressões, e bem, que o jornalismo deve ser independente do Governo. Eu também acho. Teria gostado que ele próprio o tivesse sido no governo anterior e gostaria que o fosse agora. Mas duvido que saiba como isso se faz.
Público