sábado, 21 de novembro de 2015

DE OUTROS

Ele queria era um governo de indigestão

Ele vai indigitar um governo de gestão. Tivesse decidido na Madeira, era certo. Ele pegava nos deputados da esquerda, comparava com os da direita, e dizia para estes: "Vocês têm maior tamanho." Na Madeira o tamanho mede-se a olho pelo míope. O que é um míope? É o que vê com nitidez os próximos (no míope em questão, os da direita) e vê embaciados os distantes (no caso, os da esquerda). O nosso míope raramente tem dúvidas e nunca apostaria no escuro. Vai apostar no que lhe é mais nítido, até porque este só lhe serve de pretexto. O indigitado, escolhe ele. Ele adoraria ter um governo seu para os últimos dias do seu último mandato. Na ópera, um tombar de pano destes chama-se grand finale. O prazer que vai ser o dele, que passou anos a tratar os secretários de Estado como "ajudantes", acabar a vida política a tratar, no governo de gestão, o primeiro-ministro por simples gerente! Tivesse sido na Madeira, pois, sopesando os tamanhos com o pouco jeito que ele tem para isso (exceto quando se trata do dele: um dia disseram-lhe o peso do salário de Chefe de Estado, mas ele optou pela reforma...), era certo ele escolher um governo de gestão. Mas com a decisão em Lisboa, já não estou tão certo. Aqui tudo se sabe, e são tantas as pequeninas questiúnculas entre os parceiros do acordo do PS, que talvez ele indigite Costa. Ainda maior grand finale para ele, seria ver o dilúvio depois dele. "Eu não disse?" é o seu epitáfio preferido.
Ferreira Fernandes
DN