domingo, 18 de outubro de 2015

DE OUTROS

Mas o que dizer dos eufemismos usados nos últimos tempos pelo poder em Angola para lidar com as oposições, nomeadamente com os 15 presos políticos (são 16, mas um foi já condenado e está preso em Cabinda) que insiste em manter nas suas prisões? O primeiro foi usado na detenção de manifestantes. Acusada de os prender, vieram explicar que a polícia angolana apenas os “recolheu”. Coitados, ali nas ruas, desprotegidos, bem precisavam de ser recolhidos… Como é que ninguém se tinha lembrado disso? Mas esta semana o refinamento eufemístico atingiu o auge quando a televisão pública angolana, TPA, se referiu pela primeira vez à greve de fome de Luaty Beirão, cuja libertação tem sido exigida com insistência e à escala internacional. Disse a locutora de serviço, sem usar uma só vez o termo “greve de fome”, que Luaty estaria debilitado porque… passou a ter um comportamento diferente em relação aos alimentos. Extraordinário! O que dirão de um espancado? Que tem um comportamento não-resistente em relação à força física? Ou que foi fisicamente corrigido? E o que diriam de um morto? Que tem um comportamento diferente em relação à vida?

Tamanha hipocrisia tem raízes em tudo o que, na distorção do pensamento, é mais abjecto.

Nuno Pacheco

Público