sexta-feira, 4 de julho de 2014

A CAVACAL 'GRANDEZA'

Ao contrário do que é habitual, o Grammy atribuído ao fadista Carlos do Carmo não mereceu até agora os parabéns públicos de Belém
Já é uma tradição de Belém - sempre que um português se distingue ou é galardoado com um prémio, sobretudo no plano internacional, a Presidência envia uma mensagem de felicitações, da qual dá nota pública. Esta semana a regra teve uma excepção. O anúncio chegou na segunda-feira: o fadista Carlos do Carmo foi distinguido com um Grammy, o maior e mais prestigiado prémio da indústria discográfica, nunca atribuído a um português. De Belém, nem uma palavra.
O silêncio está longe de ser habitual. Olhando para as últimas dez mensagens de felicitação da Presidência, todas elas foram feitas no próprio dia ou na segunda-feira seguinte quando o evento/prémio foi conhecido a um sábado ou a um domingo. Também foi assim há seis anos, quando Carlos do Carmo ganhou o Prémio Goya para a Melhor Canção Original, atribuído ao "Fado da Saudade". A distinção foi conhecida num domingo à noite e na segunda-feira a Presidência da República felicitava o fadista, considerando que o galardão "honra a música portuguesa".

CRÍTICO DE CAVACO Nos últimos anos, Carlos do Carmo tem sido um acérrimo crítico de Cavaco Silva. Em entrevista à Rádio Renascença, em 2011, dizia o fadista: "Toda esta desgraça começou com Cavaco Silva. O erro está todo aí e a factura está aí." Críticas que foram subindo de tom. Em Outubro de 2013, em entrevista ao programa "A Propósito", na SIC, Carlos do Carmo responsabilizava directamente Cavaco Silva pela situação do país. "Nós tivemos politicamente um azar dos Távoras. Foi ter este Presidente da República como primeiro-ministro e como Presidente da República. Este país regrediu muito. É só analisar. Foi mau demais para ser verdade. Ficou para trás a educação, entrou-se num novo-riquismo, entrou-se numa loucura de consumismo, provocado. Nunca pensei chegar à minha idade e ver isto", afirmava então. Na mesma linha, em Dezembro de 2013, numa intervenção proferida na Aula Magna, numa iniciativa promovida por Mário Soares: "Nunca me passou pela cabeça, depois de 40 anos de salazarismo, levar com este homem 20 anos. Um homem que é inseguro, inculto, medroso. E não interpretem isto como uma questão pessoal, não sou dado a questões pessoais."
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