domingo, 23 de fevereiro de 2014

SIGMARINGEN

O excelente romance de Pierre Assouline, Sigmarigen, fala-nos dos últimos meses da ignomínia da França 'oficial', a França da traição, a França da baixeza, a França de Vichy. No palácio que dá nome ao romance e onde Hitler recebeu os seus preciosos colaboradores, circulam, como num teatro de sombras, as figuras sinistras do Regime.
Nas instalações do andar superior, Philippe Pétain, o presidente/palhaço. Nos corredores e gabinetes dos outros andares ou passeando pelos belos e cuidados jardins, as figuras sinistras de Pierre Laval, chefe do governo, cuja presença causava repulsa física até aos mais chegados, tal era o contencioso que a criatura tinha com os produtos de higiene, Abel Bonnart, o ministro duplamente passivo, e todas as outras figuras, figurinhas e figurões de Vichy que escreveram as mais negras páginas da história de França. 
Os tribunais especiais, as prisões e o paredón (só para alguns) estavam a umas centenas de quilómetros e a uns meses de distância.
E, agora, uma confissão: avanço na leitura e, misteriosamente, lembro-me de Eça de Queiroz e de Ramalho Ortigão. Será porque ambos consideravam Portugal uma imitação da França traduzida em calão ou em vernáculo?
Mistério...