quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

DE OUTROS

«O Presidente François Hollande aproveitou o espanto do mundo com as proezas eróticas de um distribuidor de pizza não sindicalizado, para anunciar a sua capitulação incondicional perante a chanceler Merkel e a deriva da austeridade que se tornou na religião de Estado da Europa. A comédia é mesmo hilariante, quando nos apercebemos de que aquilo que os jornalistas esperavam, nessa conferência de imprensa, seria uma "explicação" sobre longas noites brancas, completadas por croissants retemperadores, trazidos por diligentes pretorianos. Afinal, as palavras de Hollande soaram como uma reedição dos sabres prussianos chocando na mobília da Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, em 18 de janeiro de 1871. Hollande revelou-se um político banal. Daqueles que mentem, deliberadamente, para ganhar eleições. Mas, desta vez, Marx não tem razão. A comédia de Hollande não repete nenhuma tragédia anterior. Pelo contrário, antecipa uma calamidade que se tornará praticamente inevitável. Hollande acabou de oferecer não só a vitória nas Europeias à Frente Nacional como escancarou as portas da Presidência a Marine Le Pen. A crise vai deslocar-se da periferia para o coração da Europa, prometendo um espetáculo de "som e fúria". Todos seremos atores. Quer queiramos quer não.»
Viriato Soromenho Marques
DN