Há consensos, mas não há compromissos. É esse o problema. E é esta situação que urge superar através de um compromisso exigente de ação política concreta, positiva, que construa uma solução e não se fique pela oposição. O compromisso é uma das artes mais difíceis da política e da democracia. Os compromissos, ainda por cima, nunca caem do céu. Têm de ser demonstrados, reclamados, exigidos com voz forte. É isso o que se faz no manifesto 3D (Dignidade, Democracia, Desenvolvimento) para Defender Portugal. Não é mais tolerável que a esquerda que tem burilado os seus programas, cuidado da resistência e detalhado a denúncia, se agarre aos seus pergaminhos apenas para se reafirmar a si mesma, sempre pronta a sublinhar as diferenças que existem entre si mas pouco capaz de assumir as responsabilidades de ser alternativa e de governar, coisa que só pode fazer em conjunto. Esta esquerda fragmentária tem estado demasiado fixada em hipotéticas vantagens que amealhará em futuros longínquos e irrealistas, e sempre depois de desgraças. E tem estado muito pouco atenta ao povo, que a direita – que nunca hesita perante o poder – vai fazendo sofrer. A paralisia da esquerda perante a governação é o grande favor prestado à situação e à alternância que não é alternativa. Por isso, a direita está sempre perto da governação, que monopoliza. Isso permite-lhe sonhar que, quando estiver em minoria, sempre pode ser parceira de um PS que a outra esquerda hostiliza e muitas vezes lança para campos que não podem ser os seus. Ao contrário, uma esquerda empenhada em governar e em identificar os compromissos que servem o povo é uma condição maior para responsabilizar o PS perante os seus deveres e perante si mesmo. Trata-se, pois, de assumir que toda a esquerda pode governar porque sabe estabelecer acordos entre si. É esta a principal prioridade da ação política alternativa, hoje.
José Reis
Público