«A Escola Superior de Artes Decorativas da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva continua a adiar o tributo ao homem que, juntamente com o naperon sobre o televisor e os cães de loiça, mais fez pela decoração lusa. Sobretudo numa altura de ressurgimento do kitsch, não se entende que Cavaco Silva continue a ser esquecido, quer pela academia, quer pela sociedade civil.
A recusa, tão injusta quanto obstinada, de reconhecer o valor e o mérito do actual Presidente, manifesta-se no pedido absurdo para que Cavaco Silva se demita. Cavaco Silva tem-se demitido quase todos os dias, desde que foi eleito: demite-se de responsabilidades no estado do País, apesar de ter ocupado os mais altos cargos durante cerca de 20 anos; demite-se das suas funções sendo conivente com tendência do Governo para a ilegalidade; demite-se do seu papel de árbitro protegendo sempre os mesmos. O Presidente não tem feito outra coisa senão demitir-se. Exigir-lhe que se demita, francamente, é embirração.
Além do mais, pede-se demasiado a Cavaco Silva. Pretende-se que o Presidente seja mais activo a pedir ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva de leis manifestamente iníquas. No entanto, é aí que reside um dos problemas fundamentais da nossa democracia. Toda a gente já percebeu que o funcionamento das instituições devia estar invertido: tudo seria mais fácil e rápido se o Tribunal Constitucional pudesse pedir a fiscalização preventiva do Presidente da República. Concluía-se que não estava conforme à Constituição e íamos todos para casa.»
Ricardo Araújo Pereira
Visão