segunda-feira, 7 de outubro de 2013

COMOÇÃO

«Ver uma plateia cheia de gente reunida em torno de um livro é um momento comovente. Dá alguma esperança num mundo em que tudo cerca o livro para o abater. E isso merece ser comemorado», disse ele e com razão. Ele, Francisco José Viegas.
Aliás, é tão comovente como uma plateia cheia para salvar o Teatro Aberto, o Teatro da Cornucópia, o S. Carlos, a Cinemateca, a  livraria Sá da Costa, a livraria Portugal. E dá alguma esperança num mundo em que tudo cerca o teatro, a música, o cinema, um mundo em que a cultura se submete às leis do mercado no mesmo plano das batatas, chouriços, imperiais, charutos e queixadas de porco. 
E ficamos todos comovidos. Tão comovidos que até esquecemos que foi ele - ele, Francisco José Viegas - o inspirador do programa do governo da 'Aurora Alaranjada' para a área da Cultura. Que foi ele - ele, Francisco José Viegas - o exterminador do Ministério da Cultura. Que é ele - ele, Francisco José Viegas - um dos grandes responsáveis pela cruzada neoliberal (orgulhosa e publicamente afirmada e reafirmada por ele - ele, Francisco José Viegas) que conduziu à milan-astrayzação da cultura. 
E fico por aqui. É que, quando a minha memória funciona, dá-me para ficar comovido e embarga-se-me a voz e o teclado...