Todos os pretextos são bons para ler ou reler Eça de Queiroz. Desta vez aproveitei a edição do 'Expresso' (aliás, descuidada, onde, por exemplo, 'vossês'! aparece, por vezes, a substituir 'vocês' e 'massada' (sem peixe) nos é servida em vez de maçada...) para me preparar para a leitura dos "Novos Maias", projecto a que se propuseram vários escritores da nossa praça.
José Luís Peixoto, recentemente acusado de torturar o Luís de Camões ao apresentar "Os Lusíadas" às nossas criancinhas, foi o primeiro 'continuador' da obra do imortal Eça.
Nota prévia situa-nos no tempo. Assim: "A famosa cena final sucede em janeiro de 1887. José Luís Peixoto pega nela e leva-a até 1910". E Peixoto leva-a por mão de mestre, como se verá: depois de decretar o 'apocalipse pessoal' de Dâmaso para data anterior a 1900 e antes de olhar para as carruagens que passavam no Rossio, Carlos da Maia, levado pela pena inspirada, imaginativa e delirante da peixotal figura, vê-se confrontado com os inconvenientes das novas tecnologias. Cito: "Pi-pi. Pi-pi. O silêncio foi interrompido pela estridência de uma mensagem de telemóvel. Incomodado, Carlos olhou para o mostrador. Era Claudine, claro. Insistente, inconveniente. Desligou o telemóvel a atirou-o para dentro da gaveta."
Ó Peixoto, é de génio! De uma destas não se lembraria o Palma Cavalão nem a D. Adosinda, a que considerava o déficit um belo rapaz!
E, depois disto, quem admirado ficou por saber que um 'benvindo' sardanápalo enviou, em data recente, um cartão de visita ao escritor Machado de Assis, já não se admirará que um saco de alfarrobas queira, um dia destes, convidar por e-mail o doutor Carlos da Maia para um almoço de perdizes, em Belém.
Ai o que este país deve aos 'cidadões' letrados e imaginativos...